por Paulo de Tarso Venceslau
Em setembro de 1993, nove anos de se eleger presidente do Brasil, Lula fez uma declaração premonitória que se transformou no refrão da música de Herbert Viana, “Luís Inácio (300 picaretas)” :
“Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou”
Naquele momento de 1993, ninguém poderia imaginar que o Partido dos Trabalhadores faria parte dessa “maioria de 300 picaretas”, alinhado com DEM, PSDB, PMDB e satélites para enterrar as 10 medidas contra a corrupção, que contou com o apoio de promotores, juízes e de 2,5 milhões de assinaturas. Petistas, com Lula à frente, convenientemente se esqueceram das palavras do seu líder máximo.
Provocação
No fim da tarde de terça-feira, 29, Brasília foi palco de manifestações populares com a presença marcante de estudantes e índios. Tudo seguia na mais perfeita ordem e na mais perfeita paz quando um grupo começou a tumultuar bem no meio da concentração estimada em cerca de 10 mil manifestantes.
Nos últimos meses, quiçá anos, não se registrou nada parecido na capital do Brasil. O que teria acontecido para que houvesse essa mudança de comportamento? Pode ser que não passaram de provocações grosseiras que agentes de segurança do governo federal estão cansados de fazer.
Portanto, se os provocadores possuem laços com o governo federal pode-se concluir que esse episódio não foi um ato isolado. Ele pode perfeitamente fazer parte da grande ópera bufa protagonizada pelos “300 picaretas” na Câmara Federal. Um número que atingiu a marca real de 450 votos a favor de um roteiro mentiroso: aprovação das 10 medidas necessárias para combater a corrupção.
Mas o roteiro é mais complexo.
À noite, todos os ratos…
Logo em seguida, na calada da madrugada, os picaretas começaram a retirar suas máscaras para aprovar os destaques que descaracterizam as medidas apresentadas pelos promotores com o apoio de 2,5 milhões de cidadãos. Os picaretas ficaram reduzidos à maioria folgada de 313.
A grita geral que tomou conta das redes sociais e das mais diferentes mídias escrita, falada e televisiva era mais que prevista. E pode ser exatamente esse ponto que interessa ao governo de Michel Temer. Aliás, é bom lembrar que na semana passada o presidente veio a público declarar que vetará qualquer projeto de lei que anistiar o chamado caixa 2. (ler artigo de Ricardo Noblat no link abaixo)
Na corda bamba, sem rede
É tão ruim a situação política de Michel Temer que já se comenta abertamente em Brasília a possibilidade de se convocar eleição tampão. Dois nomes aparecem como os mais prováveis: Nelson Jobim e Antônio Anastasia. O vencedor “conduziria” a Nação até o final de 2018. E pacificaria o pugilato político.
Além desse obstáculo, Temer pode se dar mal também no Tribunal Superior Eleitoral, assim que forem colocadas em pauta as acusações que constam das delações premiadas dos executivos da Odebrecht à Operação Lava-Jato.
O que resta
Concluindo, só restará uma saída para Temer diante dos problemas no Congresso – o próximo enfrentamento será com o Senado -, na Justiça e nas ruas: criar uma situação de caos da qual ele surgiria como salvador pátria e catalisar apoio suficiente para tentar manter-se presidente até as eleições de 2018. Por isso mesmo, acredito que existe uma relação não republicana entre o governo, o Congresso Nacional e os provocadores que foram vistos em ação nas largas avenidas de Brasília na tarde de ontem, terça-feira. 29.
E de quebra, haveria ainda dois caminhos para contornar as dificuldades na Justiça Eleitoral. O primeiro seria tentar inibir uma decisão do TSE no sentido de afastá-lo do cargo. O segundo, seria replicar o modelo usado pelo deputado Paulo Maluf (PP) e pelo prefeito Ortiz Júnior (PSDB) e transformar o estreito placar que o ameaça de cassação em uma estreita vitória que lhe garanta tentar encerrar seu “governo” no final de 2018.
Façam suas apostas e não se esqueçam que o presidente do TSE é o impoluto ministro Gilmar Mendes, o mesmo que garantiu o retorno de Ortiz Júnior, aquele que foi sem nunca ter ido.
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por Ricardo Noblat