Por Marcos Limão (texto e fotos)
O nome de um militante falecido na lista de petistas aptos a votar no PED (Processo de Eleições Diretas) é o maior indício de fraude que recai sobre o grupo que detém o controle da Comissão Eleitoral (COE), formada por membros da Executiva Municipal alinhados com a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) que tem o ex-prefeito Salvador Khuriyeh (PT) como candidato a presidente da sigla.
De acordo com o regulamento, cabe à Executiva local organizar a relação de filiados aptos a votar e enviá-la à direção nacional. Para ser habilitado, o militante deve estar com a contribuição financeira em dia e ter participado de alguma atividade partidária.
Assim como ocorreu em todas as instâncias partidárias, o PT em Taubaté quitou os débitos pendentes dos militantes que teriam participado de qualquer atividade partidária. Em função disso, o número de militantes aptos saltou de 300 para 560. Curiosamente, o nome do petista assassinado em julho de 2012 faria parte da lista dos contemplados pela habilitação coletiva.
Como isto aconteceu? Um militante do PT, que pediu para não ter o nome revelado por temer represálias, informou para CONTATO que o grupo ligado a Salvador Khuriyeh teria fraudado a lista de participação em atividades partidárias de dezenas de militantes.
Na sexta-feira, 25, CONTATO já havia postado no seu site jornalcontato.com.br e no Facebook um link com o sugestivo título “Vera Saba, cuidado com os batedores de voto do PT”, a respeito de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo que informava as medidas que a corrente petista “Mensagem ao Partido” tomou para evitar a prática não republicana assimilada de partidos tradicionais. Fazem parte dessa corrente estrelas como o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e o líder do partido na Câmara Federal, Paulo Teixeira, entre outros.
Candidato a Presidente do PT
Questionado sobre esta situação, Salvador Khuriyeh declarou: “não sei te responder isto. Não tenho conhecimento disso. Está cheio de irregularidades no nosso país, na nossa cidade, um monte de coisas, de partidos que têm informações por força de problemas administrativos, muitas vezes equivocadas, por ter havido erro. Não estou dizendo que há erro até porque eu não conheço o problema. Pra você ter uma informação mais precisa sobre isso precisa ligar para o pessoal do partido, que é a direção, o Nilson Coutinho, que é o presidente, aí ele saberá te informar melhor sobre isso. Peço compreensão, mas eu não me sinto em condições de tratar desta questão específica, que eu não conheço”.
Presidente do PT
Nilson Coutinho deu várias versões. Na primeira, explicou que se o nome do militante morto não for digitado no sistema, ele não dá baixa. Na segunda, declarou que “uma pessoa mais antiga, que foi importante para a fundação do partido, já está na lista [automaticamente]”. Na terceira, disse que “é mais fácil incluir do que excluir (uma pessoa)”. Na quarta, argumentou que o militante pode ter participado de uma atividade partidária em outro diretório municipal, como Roseira e Pinda. Na quinta, disse que “pode ter [ocorrido um] erro de digitação”.
Por fim, visivelmente nervoso ao telefone, Coutinho falou que a reportagem estava de “sacanagem” e que “o que você está informando pode ser mentira”.
Debate
No sábado, 26, o PT realizou um debate entre os candidatos Salvador Khuriyeh e Vera Saba. O evento, que foi aberto ao público, atraiu apenas petistas alinhados com uma das duas candidaturas.
O grupo do ex-prefeito detém o controle absoluto da COE o que lhe permite, por exemplo, mudar a regra do jogo no meio do processo. Foi o que aconteceu com o primeiro bloco do debate, que seria destinado à explanação das teses de cada uma das candidaturas.
Como o grupo de Vera Saba indicou os nomes dos militantes fora do prazo, ficou decidido que não haveria a exposição das teses no debate. Contudo, minutos antes de o debate ser iniciado, a COE voltou atrás e decidiu manter a exposição das teses. A mudança da regra foi criticada pelo grupo oposicionista, que alegou não ter se preparado para aquele ato. Com isso, apenas militantes ligados a Salvador Khuriyeh fizeram uso da palavra.
Fogo amigo
Em sua primeira intervenção, a vereadora Vera Saba partiu para o ataque. Questionou, por exemplo, qual seria o interesse de Salvador presidir o partido visto que ele tinha “berço tucano”. Khuriyeh foi indicado e eleito prefeito em 1988 com a ajuda de Bernardo Ortiz (PSDB).
Salvador respondeu que “pagou um preço alto” por ter tido “coragem” de romper politicamente com o tucanato. Na réplica, Vera afirmou que Khuriyeh foi processado por dois petistas históricos – o médico Arnaldo, já falecido, e o professor Eduardo Carlos Pinto, ambos foram presidente do partido e vereador pelo PT em Taubaté – e que em 1996 decidiu apoiar o PFL (hoje, DEM) em detrimento no PT. Na tréplica, Salvador disse que era o único ex-prefeito “ficha limpa”.
No momento de fazer sua pergunta, Salvador relatou que no dia 14 de janeiro de 2009 escrevera um texto defendendo o rompimento com Roberto Peixoto (PEN) e insinuou que Vera não quis levar adiante esta proposta, mantendo inclusive o salário como vice-prefeita.
Vera respondeu que naquele momento estava “caindo a máscara” de Khuriyeh, porque havia sido ela quem propôs o rompimento com Roberto Peixoto (PEN) e que, por isso, sofreu intervenção da direção estadual do PT. “Não tinha cargo, tinha mandato. Taubaté sabe do meu posicionamento, senão não sairia vitoriosa nas urnas. Eu não preciso de emprego e não estou em cargo de confiança ganhando bem [Salvador ocupa cargo de confiança na SPTrans da Prefeitura de São Paulo] e alienado com o que acontece em Taubaté”. Vera Saba ainda lembrou que sua propaganda eleitoral foi tirada do ar em plena campanha pela direção do PT. Na réplica, o ex-prefeito disse que tinha mais “mais presença nas atividades partidárias que a Vera”.
A história do PT em Taubaté é emblemática, porque se trata de uma excelente amostra caso fosse realizada uma pesquisa séria a respeito da política nacional. Às vezes com sinal trocado. Na quarta-feira, 30, por exemplo, houve encontro entre os presidentes Lula (PT) e José Sarney (PMDB), figura máxima do coronelismo, assistencialismo e tudo o mais que o PT um dia se propôs a combater. O petista não só elogiou o peemedebista como o comparou a Ulisses Guimarães, o maior artífice da Constituinte em 1988.
Já na terra de Lobato, curiosamente, as críticas feitas pelo grupo de Salvador Khuriyeh contra a família Ortiz tem o mesmo teor das dirigidas por Vera Saba contra seus algozes petistas, como o fato de o petismo perseguir e isolar lideranças que não rezam a cartilha imposta por aqueles dirigentes partidários que, pelo projeto de poder, são capazes de esquecer a própria história do PT.
ENTREVISTA COM SECRETÁRIO-GERAL DO PT – Como Salvador Khuriyeh e Nilson Coutinho não souberam explicar a presença de um morto na lista de filiados, CONTATO entrevistou Jece Bento, secretário-geral do PT de Taubaté, na quinta-feira, 31.
Por que na lista de militantes aptos a votar consta o nome de um rapaz que morreu em julho de 2012?
Essa é uma discussão interna do partido. Inclusive a gente pede para os candidatos e para as chapas evitarem ao máximo falar com a imprensa. Mas, tudo bem, vamos lá. Me passa o nome da pessoa que eu vou dar uma verificada. Isso acontece, porque nesse novo sistema está havendo uma reformulação e temos que tomar alguns cuidados com os filiados, inclusive, para evitar esse tipo de coisa. Aqui em Taubaté, nós temos 1027 filiados e temos 560, 570 aptos a votar. Para se ter uma ideia, ainda não tem nem o número exato, até porque a lista oficial já saiu, mas a lista final não saiu ainda. A [Executiva] Nacional deve mandar para a gente essa semana ainda.
O que pode ter acontecido?
É uma coisa que não tem como precisar exatamente. Isso acontece em todas as eleições. Por exemplo, se você pegar a lista hoje, tem gente que foi candidato por outro partido na última eleição e está na lista de aptos, então, é muito complicado explicar isso, não posso dar uma explicação exata.
Tem alguma coisa a ver com o processo de habilitação coletiva?
É individual essa contribuição(para ser habilitado). Ele (filiado) pode fazer contribuição até o dia 30 de agosto. Passando esse prazo, aí quem pode fazer essa contribuição é o partido. Como vai fazer essa contribuição? Faz uma atividade, arrecada fundos para quitar esse pessoal, mas é obrigado a quitar a de todos. Aqui em Taubaté, pagaram [a contribuição] até 30 de agosto de 320 pessoas, num primeiro momento. No segundo momento, que é a da contribuição coletiva, você tem que quitar a de todas, porque se você deixar de pagar a de um [filiado] a contribuição coletiva é invalidada.
Tem que pagar de todo mundo?
Você tem que pagar de todo mundo, de morto, de vivo. Se o morto não saiu da lista, você tem que pagar. Entendeu? Pode ser que tenha acontecido isso. Nós não fomos informados que o cidadão faleceu. Isso é uma das coisas que pode ter acontecido.
A lista fechada a partir da habilitação coletiva é a oficial então?
Acho que vai ter alteração, a [Executiva] Nacional está analisando. Eles devem divulgar uma nova lista agora, porque essas pessoas que não pagaram estão fora da lista, mas quem pagar até o dia 21 de outubro, entra na lista.
O nome de uma pessoa morta na lista vem ao encontro da denúncia de que o pessoal que está apoiando o Salvador Khuriyeh teria fraudado a lista de atividades partidárias…
Isso é uma discussão interna. Quem falou para você? Quem fez essa denúncia? Pede para entrar com uma denúncia no partido, que nós vamos verificar.
Mas isso pode ter acontecido?
Eu acredito que não! Até porque quem está organizando é a Executiva [Municipal] do partido e eu, como secretário-geral, não detectei nenhuma fraude. Até porque eu participei de todas as reuniões, participo de todas as conversas, da organização inclusive. Não tem nenhuma evidência disso por enquanto. Agora, fala pra pessoa fazer a denúncia interna, porque a gente não pode levar essas coisas externamente [para a imprensa], é regimental.
A denúncia veio de uma pessoa do grupo que apoia Salvador Khuriyeh e não da oposição…
Fala pra essa pessoa fazer uma denúncia interna no partido.
Deve ter procurado o jornal, porque não acredita numa apuração interna mais séria…
Então, o que eu posso fazer? Denúncia anônima eu não vou aceitar, o partido não aceita.
Eles teriam assinado a lista para quem não participou das atividades partidárias?
Isso não aconteceu. Isso eu tenho a absoluta certeza que não aconteceu. Se alguém disser isso, pode dizer que é mentira. Que faça uma denúncia formal internamente no partido.
O jornal Estado de São Paulo, no dia 25 de outubro, publicou uma matéria noticiando que a corrente “Mensagem ao Partido” fez um manual antifraude para a eleição…
Isso é normal. Você é jornalista há um bom tempo, acompanhou a última eleição, sabe que isso é normal, que criam fatos. Eu, como secretário-geral do partido, estou procurando tocar esse processo eleitoral interno com a maior lisura possível, até porque pode recair sobre mim algumas coisas. Então, estou procurando tocar com maior lisura possível.