Ortiz Jr derramou lágrimas de crocodilo quando “soube” que havia sido “absolvido” pelo TSE
A derrota foi da família Ortiz que se desentendeu nessa eleição. O velho Bernardo foi parar em um hospital quando soube que o escolhido pelo filho era Eduardo Cursino e não Johnny, filho do fiel escudeiro Geraldo de Oliveira desde o século passado, que o trouxera de São Paulo para ser o futuro prefeito da terra de Lobato
Qualquer observador médio estranhou a ausência do patriarca na campanha eleitoral que encerrou no dia 15 de novembro a carreira política para a família Ortiz. Uma derrocada que começou com a vitória de Roberto Peixoto em 2004 e assumiu novos contornos a partir da campanha de 2012.
Ortiz Jr construiu uma narrativa a seu próprio respeito. Filho do político imbatível em todas as suas disputas eleitorais até então. Foi eleito prefeito por três vezes e deputado estadual por uma vez, nesse caso apenas para ocupar seu tempo entre dois pleitos municipais.
Eduardo Cursino: escolha do prefeito provocou reações do seu pai às lideranças tucanas
Ortiz Jr se apropriou do desempenho paterno. Finge que não sabe até hoje o que a Justiça provou que ele fez na bilionária FDE – Fundação para o Desenvolvimento para a Educação, então presidida por seu pai.
No dia a dia da FDE, Júnior se comportava com se presidente fosse: participava de decisões estratégicas e controlava os processos de licitação em seus mínimos detalhes. Em 2012, venceu as eleições após uma milionária campanha. Seu pai, segundo consta, tem um invejável patrimônio no Rio de Janeiro, mas que nunca foi tocado para bancar campanhas eleitorais.
Com base em uma minuciosa investigação, Ortiz Jr foi denunciado por Antônio Ozório, promotor eleitoral, que daria entrada com uma representação contra Ortiz Jr apenas 5 minutos após o encerramento da votação em 2012.
Sueli Armani, juíza eleitoral condenou e cassou o prefeito na 1ª instância
Juíza eleitoral em Taubaté, Sueli Zeraik de Oliveira Armani acolheu ação de investigação judicial eleitoral movida pelo Ministério Público Eleitoral e cassou o prefeito em 1ª instância e ao mesmo tempo enviou o processo para o TRE – Tribunal Regional Eleitoral, 2ª instância. Em São Paulo, a Justiça Eleitoral manteve a condenação e a cassação. Jr entrou com recurso junto ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral, 3ª instância, em Brasília, presidido pelo ministro Gilmar Mendes, esse mesmo que você está pensando, membro do STF.
E aí começa uma confusão jurídica incompreensível para um pobre mortal. É uma “briga de cachorro grande”, expressão popular que significa briga de pessoas poderosas.
No TSE, o ministro João Noronha, um tucano originário do STJ, engavetou o processo o quanto pôde. Foi substituído por Herman Benjamin, também do STJ, que assumiu também a relatoria do processo. A corte manteve a cassação do prefeito em 1º de agosto de 2016. Condenado em 3 instâncias, Ortiz Jr jamais poderia se candidatar. Mas essa terra ainda se chama Brasil. Tem jeitinho para tudo. E preço.
Ortiz Jr trouxe Johnny (à direita) de São Paulo para ser candidato a prefeito
Num curto espaço de tempo, em 2016 ocorreram mudanças no TSE que favoreceram Ortiz Jr. No dia 29 de agosto, Maria Thereza Assis Moura, um dos 4 votos que cassaram Ortiz Jr, foi substituída pelo ministro Napoleão Nunes Maia, um cearense seguidor do mato-grossense Gilmar Mendes. Em Taubaté, mesmo sendo advogado Ortiz Júnior desdenhou a legislação vigente. Manteve sua campanha, concorreu e venceu em 1º turno a eleição em outubro.
Mas como pode ser se Ortiz Jr estava cassado?
A defesa entrou com um embargo de declaração, um recurso restrito que só pode ser empregado quando houver omissão, abuso ou contradição e ainda quando se constata algum erro material.
No dia 25 de outubro de 2016, o TSE “absolveu” o prefeito em uma sessão antológica. Gilmar Mendes abriu a sessão e declarou seu voto a favor da absolvição de um réu que não estava sendo julgado. Em condições normais de temperatura e pressão, o presidente não vota, salvo quando ocorre um empate. Portanto, Mendes seria o último a votar. No caso de Jr, foi o primeiro a intervir e declarar seu voto. Um escândalo!
Chacrinha pode ter sido o pivô da confusão que Ortiz Jr se meteu
Ministro Herman Benjamin não se conformou. Classificou o “rejulgamento” como uma “aberração jurídica”. Ministro Napoleão Maia, que afirmara desconhecer o processo porque fazia pouco tempo que assumira o TSE, foi o segundo a votar sem qualquer explicação. Estava apenas seguindo o presidente da corte, foi sua justificativa. Ortiz Jr foi “rejulgado” e “absolvido” por 4 X 3 votos. E venceu uma “briga de cachorro grande”.
O segundo mandato de Ortiz Jr foi marcado de um lado pela consolidação de um grupo de assessores que tudo podia fazer – para o bem ou para o mal – a pessoas e empresas, e de outro a orgia financeira graças ao milionário empréstimo em dólares obtido junto ao CAF, um banco de desenvolvimento regional que atende 19 países da América Latina.
Na sessão da Câmara de terça 17, vereador Augusto Guará Filho, que não foi reeleito, fez um desabafo público. Apesar de ser um dos preferidos do prefeito para sucedê-lo, a velha política teria ficado incomodada e tomou-lhe o partido, o PL. Foi para o PSDB a convite do prefeito. E afirmou que bastou aceitar o convite de Ortiz Jr para começar a receber ameaças de sequestro. E quando faltavam 10 dias para ter seu nome anunciado como candidato teve a casa invadida por uma operação de busca e apreensão determinada pelo Ministério Público. A sucessão já era caso de polícia.
Duas pessoas acompanharam de perto toda essa história: dentro da máquina, Eduardo Cursino e fora dela Bernardo Ortiz, o velho, convicto que ainda tinha o controle político da situação. Ledo engano!
Na hora H, Ortiz Jr dispensou aliados como Chacrinha, Guará e Macaé, ignorou Johnny e escolheu Eduardo Cursino, confidente e cúmplice de caminhada. Uma escolha apoiada pelo Chacrinha. Uma escolha que, segundo apurei, foi criticada pela cúpula tucana em São Paulo.
Bernardo Ortiz teve de ser internado quando soube que o filho escolhera Eduardo como candidato
O velho Ortiz foi parar no hospital diante da desfeita do filho querido e se afastou da campanha. Não encontrei um registro sequer de Bernardo nas peças publicitárias da campanha, sejam impressas ou gravadas para TV ou rádio.
O silêncio e a ausência de Bernardo Ortiz da campanha podem ter sido fatais para acachapante derrota. E talvez tenha caído de ficha a Ortiz Jr ao descobrir a distância cósmica que existe entre ele e o pai carismático. Mas, por outro lado, Taubaté se regozija com a derrota, torcendo para que seja uma aposentadoria mesmo que tardia, do clã Ortiz.