De repente, não mais que repente eis quem me esperava em Itapoã

Há tempos que Salvador não saia de minha cabeça. Assim como a imagem do nosso embaixador soteropolitano. Combinamos de tomar um orujo que ele me trouxe da Catalunha onde reside a família do seu filho mais velho (rsrs). Para quem não conhece, orujo é conhecido em todo o velho mundo que cultiva o vinho: bagaceira em Portugal, grappa na Itália e por aí vai. Devidamente abaianado, Luiz me trouxe duas garrafas (uma de cada viagem) mas bebeu uma. Deve ser sua origem taubateana.

Cansado da mesmice paulista, resolvi visitar meu amigo que aderiu ao apartamento depois de abandonar sua maravilhosa casa num condomínio em Placaford. Você conhece? Claro que não. Coisa daquela terra maravilhosa. Pouco antes de Itapuã, havia uma placa publicitária enorme do veículo Ford (um spoiler do segredo) que se tornou referência para quem residia ou frequentava aquele pedaço: “Onde você mora?”, perguntava um amigo. E ouvia a resposta: “Perto da placa da Ford”. E assim foi “criado” o inusitado bairro do Placaford. Coisa de baiano. Mas era a referência para quem procurava o condomínio do Luiz Fagnani, onde residia com seus cachorros. A porta sempre destravada nunca era usada. Entrava-se pela janela. E a insuperável Hilda que desde aquela época cuida do bem-estar do meu amigo.

 

Hilda, anjo da guarda de Luiz Fagnani, fez uma mesa de degustação de pratos baianos

Descobri nessa viagem que lá na Bahia o tempo não passa. Voa! Mas a gente nunca sai do passado, sempre presente. Exagero? Nem um pouco. Passando de taxi na porta de um restaurante em Itapuã achei que já conhecia de algum lugar. O motorista logo informou que se tratava de uma casa de Vinicius de Moraes quando ele morou na sua fonte de inspiração. Imediatamente desembarquei.

Degustei três pratos que faziam parte da 23ª Salvador Restaurant Week no restaurante di Vina – A Casa. Nosso poetinha era conhecido como Vina naquelas quebradas. Os pratos concorriam com a qualidade das poesias eternizadas com as melodias de Chico, Caetano, Gil, Toquinho e uma longa procissão de autores.

Não podia imaginar que o Vina estaria à minha espera

Depois do café tive a ousadia de conhecer o quarto do Vina (já me sentia íntimo) com detalhes que lembravam seus versos como um calção de banho pendurado num varal ou originais que falavam de Itapuã. Eu me sentia em casa.

Saí do restaurante e fui andar na praça logo em frente com as imagens do nosso diplomata na cabeça e morrendo de inveja de todos os que com ele compartilharam esses detalhes da eternidade. De repente senti um leve toque no ombro e a voz de um cidadão me avisando que um senhor me esperava na mesa do boteco da praça. Quem seria?

Vi que havia alguém solitariamente esperando por alguém e levei um susto quando vi que se tratava do nosso poetinha. Cumprimentei-o meio sem jeito e defrontei-me com um sorriso generoso que transbordava alegria.

Vinicius com amigos e Gessi Gesse, sua paixão baiana

Porque tanta felicidade, perguntei. “Foi aqui que passei os seis anos mais felizes de minha vida!” Não precisava de nenhuma outra explicação. A conversa descontraída e bem-humorada era apenas um pouco mais do que sempre foi.

Tchau Vina.