Começa pela quebra do moral e da resistência do adversário. As armas só entram depois
O governo Bolsonaro reacendeu-me, veja só, o interesse pelo nazismo. No passado, ao ler sobre o assunto, era como se fosse um capítulo da história impossível de se repetir. De repente, 80 anos depois, sente-se nas proximidades o seu bafio, exalado por gente íntima de suas táticas. Pensei nisso outro dia ao aprender sobre uma delas, a Sitzkrieg, guerra de posições. Veja se lhe diz alguma coisa.
É a guerra moral, psicológica, das expectativas fatigantes, dos cansaços nervosos. É a desmoralização, a destruição das energias internas, o estímulo das discórdias interiores e da desagregação nacional. É também a infiltração e penetração dos agentes do terror, do pânico e da dúvida, de modo a provocar a divisão do adversário e a vulnerabilidade da sua resistência psíquica. É a guerra não declarada, a guerra em estado de paz. A ela segue-se, claro, a Blitzkrieg, a guerra-relâmpago, que pega a vítima alquebrada e a subjuga.
São muitas as semelhanças entre Bolsonaro e Hitler
Transfira isso agora para os ataques, agressões, ofensas, desrespeitos, afrontas, aviltamentos, humilhações e perdas que há dois anos e meio nos são infligidos por Jair Bolsonaro e seus musculosos sub-führers. Acrescente à receita a degradação da educação, da cultura, do meio ambiente e dos outros valores nacionais, as provocações machistas, racistas e homofóbicas, os disparos em massa de fake news pelas milícias digitais e a constante ameaça de ruptura das instituições. Quem aguenta isso por muito tempo?
Quebrada a nossa capacidade de resistência por essa barragem de palavras, gestos e atos, seria um delírio imaginar uma Blitzkrieg formada pelas SS bolsonaristas —as falanges com porte de arma—, os milicianos, os soldados, cabos e sargentos da PM e a parte do Exército que tem uma leitura própria da Constituição?
Ah, sim, a descrição da Sitzkrieg. Tirei-a de uma fonte insuspeita: Lourival Fontes, o Goebbels de Getúlio Vargas no Estado Novo.