Bolsonaro faz pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada ao lado do ministro do GSI, Augusto Heleno (à dir.), e o da Justiça, Anderson Torres (à esq.), na última quarta (26)

Eleição de 2022 inaugura nova versão do ditado: de onde só se espera golpismo, não sai nada além de golpismo mesmo. Não era o barão de Itararé quem dizia que, de onde não se espera nada, daí é que não sai nada mesmo? Pois a eleição de 2022 está inaugurando outra versão do ditado: de onde só se espera golpismo, não sai nada além de golpismo mesmo.

Ninguém duvidava que Jair Bolsonaro não aceitaria outro desfecho para esta eleição além da própria vitória. Mas, depois do fiasco produzido pela auditoria dos militares sobre as urnas eletrônicas — aquela que ninguém viu, mas que todo mundo sabe ter atestado a segurança do sistema eleitoral —, parecia que o presidente havia finalmente aceitado o que seus estrategistas não se cansavam de repetir, com base no que viam nas pesquisas: o brasileiro médio não quer saber de confusão.

Sempre que percebe que alguma ação do chefe do Executivo pode causar instabilidade e tumulto, esse eleitor se afasta dele.

Bob Jeff: ataque de fúria sem explicação

Numa disputa apertada como a que vivemos, qualquer voto conta. Até o “Jefferson Day”, quando o bolsonarista Roberto Jefferson lançou granadas e tiros de fuzil contra uma viatura da Polícia Federal, Bolsonaro parecia endossar o esforço na campanha para repaginar seu comportamento.

O objetivo era atrair o cidadão que já estava convencido a não votar em Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda temia empenhar seu apoio a Bolsonaro em razão dos impulsos golpistas. Podia ser uma franja do eleitorado, calculava-se que 1% ou 2%; mas podia ser decisivo.

Não foi por outra razão que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), deu uma entrevista ao GLOBO em 12 de outubro para dizer que o presidente estava “ mais calmo” e que “está todo mundo cansado de briga”.

Flávio e outros aliados chegaram até a discutir a possibilidade de Bolsonaro fazer mais algum gesto ou declaração de respeito e confiança no sistema eleitoral para aplacar quaisquer dúvidas.

Pois o ataque de Jefferson pôs tudo isso em xeque — até o resto de senso de preservação do presidente da República. Desde então, a campanha entrou em parafuso. À crise provocada pelo “Jefferson Day”, somou-se outra, a do vazamento de planos da equipe econômica que podem redundar em reajustes abaixo da inflação para o salário-mínimo e na cobrança de Imposto de Renda sobre gastos com saúde e educação.

Cercado por todos os lados, Bolsonaro fez justamente o que mais se temia no Q.G. da campanha: disparou contra a Justiça Eleitoral, desta vez lançando suspeitas sobre as inserções da campanha nas rádios do Norte e do Nordeste.

 

Ministro Fábio Faria e o assessor Fabio Wajngarten

Tensos, falando em fraude e grave violação do sistema eleitoral, o ministro Fábio Faria e o assessor Fabio Wajngarten disseram ter provas de que milhares de peças publicitárias pró-Bolsonaro teriam sumido da programação de “inúmeras” emissoras.

Embora fosse plausível imaginar que parte das peças não tivesse sido mesmo exibida — tanto que algumas rádios até admitiram ter veiculado menos inserções do que o previsto —, não se produziu nenhum material livre de dúvida ou contestação, nem foi apresentada prova de qualquer ação deliberada dessas rádios, do PT ou do TSE para prejudicar a campanha do PL.

Ainda assim, parlamentares bolsonaristas passaram a defender que a pretensa fraude deveria levar a um adiamento da eleição para permitir que as inserções fossem veiculadas, no que foi batizado de “terceiro turno”.

Mas nem essa ameaça, nem os apelos dos bombeiros do Centrão, nem mesmo a mal explicada demissão do funcionário do tribunal que cuidava das inserções impediram Alexandre de Moraes de rejeitar a denúncia — e ainda mandar abrir uma apuração por crime eleitoral por parte da campanha de Bolsonaro, com “a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”.

Diante das circunstâncias, o poderoso Xandão parece não ter visto outra opção a não ser correr o risco de dobrar a aposta golpista de Bolsonaro.

Presidente do TSE, Alexandre de Moraes pagou para ver

Por enquanto, o presidente amansou. Sem proferir nenhum palavrão, disse que recorreria da decisão e reclamou de estar sendo prejudicado. Se tivesse ouvido o Jefferson que mora dentro dele, certamente teria lançado alguns petardos em direção ao TSE.

Pelo jeito, decidiu ouvir os estrategistas e calcular melhor seus movimentos. Isso não significa que tenha aberto mão de seus instintos mais primitivos. Quer dizer apenas que Bolsonaro talvez ainda não considere a eleição perdida por completo — ou, quem sabe, que ainda não está na hora de lançar suas granadas sobre nossas instituições.