Vereadores da terra de Lobato estão mais perdidos do que cachorro que cai do caminhão em dia de mudança: eliminaram o nome de 237 ruas, avenidas e praças e ainda querem proibir a produção e comercialização de foie gras
No dia 21 do mês passado, um erro da Câmara saltou os olhos da população. Um passe de mágica do Legislativo local fez com que ruas, praças e avenidas mais famosas da cidade, na prática, ficassem sem nome devido a uma lei revogada pelos vereadores.
O descuido aconteceu por açodamento dos parlamentares para aprovar um projeto do presidente da Casa de Leis, Diego Fonseca (PSDB), que trocaria o nome da Rua Boa Morte, no bairro Esplanada Independência, para Rua Walter Teixeira Filho.
Na segunda-feira, 18, a falta de criatividade do vereador Douglas Carbonne (PCdoB) o levou a apresentar um projeto para proibir no município a produção e a comercialização de foie gras, iguaria típica da culinária francesa. Acontece que o autor do projeto se limitou a copiar e colar um projeto paulistano apresentado no governo petista de Fernando Haddad em 2015. E o projeto do comunista Carbonne replicou que a proibição seria aplicada no município de São Paulo.
Vereador Douglas Carbonne não sabe onde amarrar seu pato
Santa ignorância 1
Nossos vereadores, salvo raras exceções, julgam-se portadores de nível cultural acima da média pelo simples fato de terem sido eleitos. Ledo engano! Uma pretensão que os levou a peitarem o departamento jurídico da Câmara e a Comissão de Justiça que foram contrários ao projeto. Afinal, a Lei Orgânica do Município proíbe a troca de nomes de vias. Apesar disso, os vereadores aprovaram em 12 de junho desse ano.
Esse imbróglio teve um novo episódio quando a prefeitura interveio e vetou o projeto devido a erros jurídicos. Não obstantes, os vereadores derrubaram o veto no dia 21 de agosto e oito dias depois a lei foi promulgada.
Ao invés de revogar somente o item da lei de 1955, sancionada na época por Felix Guisard Filho, que dava o nome a Rua Boa Morte, os parlamentares decidiram por revogar toda a lei, como havia proposto o presidente da Câmara. Que vasta cultura!
Dentre as ruas, avenidas e praças que perderam o nome, os erros que mais chamam a atenção se referem a Avenida Dom Pedro I, Avenida dos Bandeirantes, Avenida Itambé e a Rua do Areão.
Ao todo, são 237 ruas, avenidas e praças que perderam o nome graças ao erro no projeto de Diego Fonseca. Dentre os bairros afetados estão Independência, Estiva, Chácara do Visconde, Monção, Vila Aparecida, Vila São Geraldo, Vila São José, Vila das Graças e Vila Albina.
Consultada, a Câmara se limita a dizer que “o problema foi verificado e será adequado com outro projeto de lei”.
Já Diego Fonseca, autor do projeto que gerou essa confusão toda, quer tentar consertar a patacoada: “Peço aos nobres pares que aprovem este projeto para que possamos corrigir um engano e assim as mais de 200 ruas e praças voltem a ter os nomes que sempre tiveram e como sempre foram conhecidas”, disse o presidente da Casa de Leis.
Vereadora Loreny (PPS), apesar do marketing como oposição, também desafinou
Santa ignorância 2
Malandramente, vereador Douglas Carbonne (PCdoB), líder do governo Ortiz, copiou e colou um projeto paulistano de 2015 que proíbe naquele município a produção e a comercialização de foie gras, como se essa iguaria gourmet da culinária francesa fizesse parte da cesta básica local. Além disso, o vereador escreveu que a proibição será válida para o município de São Paulo. “Me poupe!”, diria Tia Anastácia.
A ignorância foi agravada quando, mesmo com a redação errada, o projeto foi lido e aprovado nessa segunda-feira, 18, sem que nenhum vereador percebesse o erro. Será que alguém o leu? Afinal, a aprovação foi unânime na primeira votação. Na segunda, houve apenas um voto contrário, da vereadora Loreny (PPS).
Decisão na mesa do prefeito
Vereador Diego Fonseca, o independente bate-pau do prefeito
O texto segue para análise do prefeito Ortiz Junior (PSDB) que deverá vetá-lo por razões óbvias: além da repercussão negativa diante das falhas gritantes, compete à União e aos estados legislar sobre o tema.
Além disso, o alcaide está interessado em projetos mais rentáveis. E os nobres vereadores, no afã de mostrar “autonomia”, já derrubaram o veto do prefeito que poderia impedir a vergonha de apagar a história que está por trás do nome de cada espaço público.