Filho da jornalista e cantora Cláudia Versiani e do violonista, compositor, arranjador e produtor Cláudio Jorge, Gabriel é bom cantor e compositor de responsa.
Ainda Sambo (Fina Flor), ora lançado, é o seu segundo CD. Das dez faixas, oito são só dele, uma é em parceria com seu pai e outra com Rafael Pitanguy.
Participações especiais de Mart’nália, Joyce Moreno, Cláudio Jorge (violão e guitarra), Itamar Assiere (teclado), Ivan Machado (baixo), Camilo Mariano (bateria) e da Orquestra Criôla, cujo naipe de sopros conta com o saxofonista e flautista Humberto Reis (arranjador e regente da orquestra), com o trompete de Altair Martins e o trombone de Marlon Sette: turma que dez entre dez músicos, em seu segundo álbum, sonha contar.
Os arranjos de base são todos de Cláudio Jorge, que, como pai competente e zeloso que é, está presente, e mais do que isso, atento a tudo o que soa ao seu redor. Por falar em arranjos, Humberto Reis escreveu os dele para os sopros em seis faixas.
Portanto, não seria por falta de reforço de primeira grandeza que Gabriel deixaria de gravar um bom disco. E ele não fez por menos: Ainda Sambo é muito bom.
Bom cantor, sua afinação é precisa, suas divisões, feitas a partir de uma respiração correta, conferem suingue ao que canta. Tais qualidades, a partir de composições cujas harmonias e melodias são ajustadas com esmero, além de versos bem-humorados, apresentam a marca registrada de um jovem que ama o samba, principalmente quando a ele agrega elementos do jazz.
E tome de samba-jazz: “Ainda Sambo” (Gabriel Versiani) – já gravada em seu primeiro trabalho –, além de título do novo álbum traz um arranjo estimulante para os sopros da Orquestra Criôla. Gabriel cria divisões que antecipam compassos para, à frente, voltar a eles.
“Qualquer Bobagem” (GV), também já gravada em seu primeiro trabalho, tem outro arranjo quente da Criôla. O som grave do trombone antecede a entrada de Marti’nália. Carioca que só ela, junta-se a Gabriel num duo esperto. O suingue contagia. O intermezzo da Criôla é de arrasar. Um solo de sax anuncia que o final está próximo.
“Urca” (GV) – também já gravada em seu primeiro trabalho –, conta com a categoria de Joyce Moreno. Sua ótima participação vale como exaltação ao bairro carioca e confere ao samba poder de empatia e sedução.
“Não Vá Dizer” (Gabriel e Cláudio Versiani) tem melodia criada à precisão para o timbre de Gabriel. A guitarra cria belo improviso num intermezzo que tem apoio de teclado, bateria, baixo e percussão.
Talvez o mais belo samba do CD, “Um Dia a Mais” (GV) tem introdução em que o som grave do trombone toca uma frase que se repete ao longo do arranjo. Com o coro comendo, ninguém segura o balanço que tem o samba-jazz.
Dá gosto ter ciência de que um cara como o Gabriel Versiani lançou um CD como este. Ele tem o samba no sangue, que de suas veias jorra, mesclado ao jazz, e pulsa e pula de um jeito tal que quem o ouve a ele se rende e ama.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4