Simples como habitualmente são as grandes obras; profundos como costumam ser os trabalhos que se perpetuam; simples como voo de passarinho; profundo como amor incondicional; singelo como canto de ninar; intenso como fogo de lamber a alma… foi remoendo tais afirmativas que comecei a escrever este texto.
A cantora Alice Passos inicia sua trajetória reunindo sete músicas inéditas e seis regravações, de gêneros diversos, e gravou Voz e Violão (Fina Flor), seu primeiro disco. Seu primeiro passo: tudo som de arrepiar; tudo canção de amar; de doer; de, enfim, tudo sentir; todo (en)canto; tudo, enfim, música…
Encantadora por suas interpretações como iniciante na arte de cantar/gravar, e partindo de uma grande ideia musical, a moça tem a pegada de uma veterana: afinação firme, respiração adequada, agudos eficientes… enfim, música!
Acompanhando-a, apenas o violão de cada um dos compositores – sendo que alguns deles, além de tocar violão, também participam cantando com ela.
“Mestre” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) traz Dori com suas sempre bem-vindas harmonias, seu violão irrepreensível e sua voz encorpada. Como se já experimentasse todas as astúcias do cantar, Alice está assertiva, pronta para ultrapassar os muros que costumam tolher quem ousa alçar voo com a música.
Na inédita “Quadrança” (Sergio Santos e Paulinho Pinheiro), a afinação e a delicadeza da voz de Alice, ajuntada à de Sergio (a bela voz do mineiro lembra a de Dori), acresce afeto e doçura aos versos do poeta.
Se alguma dúvida por acaso ainda restasse, a interpretação de Alice para “Nem Cais, Nem Barco” (Guinga) – quando percorre com aprumo as quebradas melódicas de Guinga –, traz a certeza de que para ela nada é e nem será difícil cantar.
Em “Toque de Amor” (João Lyra), outra música inédita, comprova-se a acertada decisão de privilegiar a união da voz feminina com a sonoridade do violão. É de arrepiar a emoção que Alice imprime nos versos, enquanto os acordes do violão a amparam.
Assim como ela também comove ao cantar a letra da inédita “Assombros” (João Camarero e P.C. Pinheiro). Principalmente pela força tatuada nos versos “(…) O canto que prova num segundo/ Que o que eu mais quero é você no mundo”.
Fechando a tampa, dois sambas que, além dos violões de seus autores, trazem algumas percussões: “Sem Palavras” (Francis Hime e Thiago Amud) e a inédita “Samba de Mestre (Maurício Carrilho, ele que também é o produtor do CD). Neles, Alice prova seus recursos vocais com picardia. Afinal, para uma grande intérprete, não há gênero musical que possa “aprisioná-la”.
Alice Passos certamente tem um longo caminho a trilhar dentro da música popular. Ela, certamente, continuará a ser reverenciada por seus colegas de ofício; e depois de oferecer shows nas casas noturnas, terá um público para chamar de seu. Previsivelmente, seu segundo álbum a trará ainda mais segura de si, com a voz ainda melhor colocada e as divisões rítmicas ainda mais suingadas.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4