Ao completar setenta anos de vida e sessenta anos de música, o pianista, compositor, arranjador, produtor e maestro Gilson Peranzzetta comemora com um CD ao vivo, cujo registro se deu num concerto realizado na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, em abril de 2016.

Em Gilson Peranzzetta – como vinho – 70 anos (Fina Flor) ele conta com João Cortez (bateria) e Zeca Assumpção (baixo acústico). Com eles Gilson caminha com explícita madureza por dez de suas composições (sete só dele), além de arranjos para o “Prelúdio nº 4 das Bachianas Brasileiras” (Heitor Villa-Lobos) e “As Rosas Não Falam (Cartola).

Gilson convidou mais gente talentosa para com elas amplificar o clima da festa musical: os cantores João Senise, Valéria Lobão e Leny Andrade, os instrumentistas do Quarteto Radamés Gnattali e o saxofonista Mauro Senise.

Vamos ao som: Nas primeiras faixas, Gilson tem a seu lado apenas Zeca Assumpção e João Cortes. Sem agonia, mesmo quando o suingue atiça, o piano de Peranzzetta expõe a naturalidade e a beleza de sua obra.

“Paisagem Brasileira” tem um inesperado solo de João Cortez como introdução; num intermezzo denso, o contrabaixo de Assumpção reitera sua força; o piano comove pela leveza com que Peranzzeta o conduz – harmonia e melodia se mostrando por inteiro. Em mais de oito minutos de interpretação, a brasilidade se faz perceber. Viva!

No “Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4”, de Heitor Villa-Lobos, a flauta de Mauro Senise se junta a piano, bateria e baixo. Docemente os três iniciam a obra prima. A flauta pede passagem para seu som acolhedor. Apurada que só ela, sola a melodia. Villa-Lobos sente a presença do piano que chega e, feliz, provavelmente – sim, “provavelmente”, porque eu não estou lá para ver – acende outro charuto.

A cantora Valéria Lobão se junta ao Quarteto Radamés Gnattali para interpretar “Vivência” (GP, Dori Caymmi e Paulinho Pinheiro). Após uma introdução com as cordas do quarteto, piano e baixo vêm e a elas se unem. Junto com a bateria, que assume o ritmo, ouve-se a voz privilegiada de Valéria.

Leny Andrade canta visceralmente “As Rosas Não Falam” e João Senise, um bom cantor, canta ”Sorriso de Luz” (GP e Nelson Wellington). Belos Momentos.

Concluindo: nunca um dito popular traduziu tanta verdade quanto o “como vinho” postado no título do álbum. Sendo Peranzzetta um vinho, conferimos que o cuidado com a terra começou aos dez anos, num duo de acordeons com seu irmão; o plantio iniciou aos 12, ao principiar o estudo de piano; as floradas surgiram em duzentas composições; a colheita veio com o elogio do maestro Quincy Jones, que o apontou como um dos maiores arranjadores do planeta; a maturação vem com os vários prêmios conquistados; e precedido de aroma, cor e olfato, o vinho de honra é (com)provado pelos fervorosos aplausos ao final de cada música e quando de sua entrada no palco da Sala Cecília Meireles para gravar o disco Gilson Peranzzetta – como vinho – 70 anos.

 

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4