Hoje saberemos juntos sobre Contraveneno (Sete Sóis, com distribuição da Tratore), CD recém-lançado pelo compositor, cantor e violonista paulistano Kleber Albuquerque, e Rubi, cantor e violonista brasiliense – dupla que tem sólidos trabalhos individualmente lançados (Rubi, três CDs, Kleber, seis).
O cantar de Rubi é doce quando carece, intenso se necessário. O cantar de Kleber é conciso, exato como bote de cascavel. Amplificado por duas vozes raras, o álbum gira com elegante informalidade. Em Contraveneno (produzido pelo compositor e poeta Flavvio Alves), tudo se dá na mais requintada sincronia entre as canções interioranas e a contemporaneidade da música planetária.
Gravado “ao vivo” num estúdio paulistano, o violão requinto de Rubi e o violão de Kleber integram-se à perfeição com suas vozes. E ainda mais quando seus instrumentos juntam-se em congraçamento com o cello de Mário Manga e o violão e a guitarra de Rovilson Pascoal, ele que é responsável pela mixagem do álbum.
Abrindo a tampa, o clássico “Castelo de Amor” (Nenzico, Creone e Barrerito), sucesso na voz de alguns ícones do repertório sertanejo, nos chega como uma prece. Oração com a qual Kleber e Rubi reverenciam os autores e, de cara, dizem a que vieram. A delicadeza do requinto e dos outros violões, mais as cordas do cello, emolduraram a interpretação de Rubi e Kleber, tornando-a bonita que só ela.
A introdução cabe ao violão requinto (sua sonoridade é ímpar). As duas vozes se abrem como se fossem asas de um beija-flor-da-mata. O timbre vocal é límpido. Os violões e a guitarra ajuntam acordes. O cello cria desenhos que fazem dele uma terceira voz. Íntegros, chegam ao intermezzo. Retomando a letra, no último verso, Kleber e Rubi aguçam o caráter quase sacrossanto da cantiga: “Quando um dia nossos sonhos tornarem realidade/ Unidos então seremos em plena felicidade/ Aí então cantaremos louvores ao criador/ Será mesmo um paraíso nosso castelo de amor”. Tudo belo, tudo música brasileira. Deus do céu!
“Geração” (Kleber Albuquerque, ele que no CD tem quatro canções só suas, além de outras três com parceiros) traz violão, guitarra e cello. Logo o violão toca um desenho que, seguindo a linha melódica e somando-se ao canto, resulta noutra voz. O cello dá o mote para vocalises. Na sequência, rola divertido e rico bate-papo instrumental. Particularmente, Rubi e Kleber apuram ainda mais as suas interpretações. Supimpa!
“Eta Nóis” (Luhli e Lucina) tem introdução de violão, com detalhes do requinto. Violões e guitarra dão à cantiga um toque de contemporaneidade. O intermezzo traz uma violada. Nos versos finais, o duo deixa a vocalização de lado e em uníssono fecha a tampa.
Magos vocalizadores de mil e uma entonações. Vozes siamesas – boas tanto de agudos quanto de graves – que rejeitam excessos, rebarbam futilidades. Belas, sensuais, elas tangem a irresistibilidade. Rubi e Kleber Albuquerque, emoção palpitando num gênero popular que traduz a alma nacional.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4