Ex-prefeito da terra de Lobato sai em defesa da sua esposa Odila Sanches, secretária de Finanças da prefeitura e madrasta do seu filho, prefeito Ortiz Júnior, com argumentos nada republicanos para ofender o funcionalismo e justificar a desigualdade de tratamento pelo poder público
Filhote do jornalão de São José, o Gazeta de Taubaté deu um furo jornalístico no sábado, 08, ao divulgar a íntegra da entrevista sonora com o ex-prefeito Bernardo Ortiz, presidente do PSDB local, em defesa de sua esposa Odila Sanches, secretária de Finanças, que no mês de fevereiro, teve o rendimento bruto de R$ 78.367,40, quase cinco vezes maior do que o salário do prefeito, R$16.574,82. (A entrevista e o áudio da Gazeta de Taubaté podem ser vistos no site do jornal AQUI).
A repercussão negativa obrigou o prefeito a emitir uma nota reconhecendo que Odila recebeu a licença-prêmio, após furar a “fila” de espera dos servidores. “Após a divulgação do pagamento da licença-prêmio fora da ordem cronológica estabelecida, o prefeito Ortiz Junior determinou a devolução dos valores aos cofres públicos”. Apenas dois vereadores se manifestaram contra o privilégio de Odila: João Vidal (PSB) e Loreny (PPS). Ler mais AQUI
Odila, Bernardo Ortiz e Chacrinha, assessor do prefeito Ortiz Jr
Melhores momentos
Nossa reportagem selecionou os melhores trechos da entrevista que durou cerca de 20 minutos. No final, o leitor terá um link para acessá-la na íntegra. Leia e ouça e tire suas próprias conclusões.
“Aminha esposa é melhor funcionária do que 50 % desses vagabundos que aí dentro [da prefeitura] Ela pegou a cidade de Taubaté falida depois de um governo corrupto, de um prefeito que pegou 34 anos de cadeia. E ela arrumou isso. (…)
(…) Agora, ela tem que pagar escola de duas filhas, tem uma mãe que teve infecção hospitalar numa operação que fez. Ela precisou gastar dinheiro nisso tudo. E tem problema de saúde também, de coluna, uma série de coisas. Então é natural que ela tenha necessidade”. (…)
(…) “A licença-prêmio dela venceu em 2015, não é como disseram aí que foi em janeiro. Em janeiro foi quando ela entrou com o processo. (…)
(…) “O que é licença-prêmio? É um prêmio. Prêmio é meritocracia. Você vai dar preferência para quem é melhor funcionário. Você não pode comparar uma funcionária que tem um montão de cursos, de aperfeiçoamento. A Odila é a melhor contadora pública que existe nesse Vale do Paraíba, não existe outra pessoa”.
“A meritocracia tem que existir. No meu tempo não era assim. Qual é a lei que diz que tem que seguir ordem cronológica? Não tem. Você vai pagar, primeiro, o funcionário que tem maior capacidade, maior formação, que fez curso, se aperfeiçoou. Funcionário que é comum, ele espera. Ou então ele goza a licença-prêmio, ficando três meses em casa”. (…)
Bernardo toma posse na FDE em janeiro de 2011: meritocracia?
(…) “Não é fila nenhuma. Essa fila foi uma besteira que foi inventada. No meu tempo não tinha fila, não há lei nenhuma dizendo que tem que ter fila. O que o funcionário tem [direito] é tirar licença-prêmio e ficar três meses em casa. Todo esse pessoal que está aí, se quiser ficar três meses em casa, fica. Agora, o pagamento em pecúnia é uma opção que o governo tem, para pagar quem merece mais”. (…)
(…) “Acredito que ela não tenha mais. Ela vai dividir, pagar com o salário dela e pronto. Mas é uma injustiça muito grande, do serviço público, igualar o bom funcionário com o ruim, nenhuma empresa faz isso. Nas empresas americanas então, para os funcionários que têm melhor qualidade eles dão casa para morar, pagam o aluguel, tudo isso”. (…)
(…) “Agora, o outro [funcionário diz]: ‘eu também tenho direito’. Não tem direito, não. O que faz o direito do indivíduo é a capacidade que ele tem de trabalhar, de ser útil à comunidade. A pessoa que não tem essa capacidade, não adianta”. (…)
(…) “Não é corrupção ela [Odila] ter o pagamento de uma licença-prêmio em pecúnia a que ela tem direito. Primeiro, porque já completou o período. E segundo, porque ela é melhor do que os outros”. (…)
(…) “Eu não estou falando isso como marido. Porque, por mim, eu achava muito melhor que ela se aposentasse e ficasse em casa comigo”. (…)
(…) “O que nós estamos fazendo no serviço público brasileiro é a vantagem dada ao sujeito ruim, ao vagabundo. Esse não tem que receber licença-prêmio em pecúnia. Quem tem que receber licença-prêmio em pecúnia é o funcionário bom. O outro, vai para casa. É vagabundo, vai mesmo ficar três meses em casa. Isso a gente consegue perfeitamente definir, e eu definia no meu tempo. Não definiu hoje porque o Junior decidiu criar essa história de ordem cronológica”. (…)
(…) “É um ponto de vista dele, ele faz o que acha que deve fazer. O que está errado, que eu acho, é que ela [Odila] seja obrigada a devolver uma coisa que ela tem [direito]. Se você pegar nesses últimos quatro anos, qual o funcionário que mais rendeu para a prefeitura? É ela. Disciplinadora”.
Tal pai, tal filho, seria o mesmo DNA?
Repórter: O senhor chegou a conversar com seu filho sobre a decisão que ele iria tomar?
BO: Não. É uma decisão dele, ele faz como quer.
Repórter: O senhor mesmo disse que a decisão de pagar ou não passa pelo prefeito. Como viu o fato do seu filho ter negado saber que a Odila havia recebido?
BO: Não passou por ele.
Repórter: O senhor disse que cabe ao prefeito assinar.
BO: Não, pode ser o secretário, que é a própria Odila.
Repórter: O senhor acha que não é errado?
BO: Não, era uma dívida que ela tinha. Você acha, então, que o sujeito, porque ocupa um cargo, tem que ser injustiçado? Ela é a melhor funcionária da prefeitura, que tem mais curso, que mais trabalha. Agora, o que o Junior está fazendo é ideia dele, mas [o pagamento da licença-prêmio] não passou por ele, não. O Junior dá um poder enorme aos secretários. (…) Comigo não era assim. Mas o Junior é bonzinho. (…) Eu berrava, dava murro na mesa quando a coisa não estava certa. E funcionava”.
Ouça a entrevista completa AQUI