Luís Inácio (300 Picaretas)
da banda Os Paralamas do Sucesso
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída
Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão
Rádio FM e televisão
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Governo federal, partido dos trabalhadores (propositalmente em minúsculo) e grande parte da base aliada vivem um dilema. Todos eles ainda não descobriram se fazem parte do bando de picaretas ou dos achacadores que dominam o poder no Congresso Nacional.
Luís Inácio Lula da Silva, meio político e meio sindicalista quando ainda gravitava longe do Planalto, embora buscasse ansiosamente ocupar o trono em Brasília, tinha uma opinião que parecia sincera a respeito de deputados e senadores. Pelo menos foi essa interpretação dada ao pronunciamento que fez em setembro de 1993, enquanto pré-candidato à eleição presidencial de 1994, quando percorria os Estados da Amazônia em campanha: “Há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns trezentos picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”. Ele ainda se identificava com a minoria.
Eleito presidente duas eleições depois, Lula imediatamente aliou-se aos “picaretas” que, enquanto maioria, acabaram salvando-o de problemas maiores durante os escândalos do mensalão em 2005, garantiram sua reeleição em 2006 e mandato relativamente tranquilo até 2010.
Lula fez escola. Um de seus melhores alunos no momento é o ministro da Educação, Cid Gomes, ex-governador do Ceará e irmão do raivoso Ciro. Exagero? Confira as palavras de Cid, na sexta-feira (27), na cidade de Belém, durante uma visita à Universidade Federal do Pará.
“Agora, as coisas são assim. Tem lá [no Congresso] uns 400 deputados, 300 deputados que quanto pior melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais, aprovarem as emendas impositivas …” O ministro da Educação fez essa declaração em uma reunião com professores e reitores de universidades federais paraenses. No mesmo evento, servidores e alunos o recepcionaram com um protesto contra o corte de verbas destinadas às instituições federais de ensino.
A sensibilidade elefantina do ministro veio à luz no momento em que Dilma enfrenta a pior crise de relacionamento com seus aliados no Congresso. Cid pôs mais lenha embebida em gasolina na fogueira que toma conta de Brasília. Ao mesmo tempo, ao atacar frontalmente o Congresso incluindo entre os achacadores os adeptos das emendas orçamentárias “impositivas”, ele atacou até os parlamentares do seu partido, o Pros, que votaram a favor da emenda constitucional que obriga o governo a executar as despesas enfiadas pelos congressistas no Orçamento da União.
No meio dessa confusão, Lula entra em cena para tentar debelar ou pelo menos controlar o fogo que não para de se alastrar. Essa atitude é quase uma pá de cal no governo Dilma que já exibia sinais de exaustão apenas algumas semanas depois da vitória obtida nas urnas. Durante a campanha, a retórica da calúnia e da difamação, de um lado, enfraqueceu a petista enquanto que, de outro, a crise econômica e as gravíssimas acusações de corrupção emparedaram o governo.
O fisiologismo cada vez mais caro eliminou qualquer vestígio de seriedade que algum nome, como o de Joaquim Levy para ministro da Fazenda, poderia servir de alento.
O PMDB deita e rola enquanto o pt não consegue mais surfar no mar de lama. O PSDB permanece sentadinho na cadeira no fundo do salão de baile à espera de que alguém travestido de político ficha-limpa lhe convide para dançar.
Quando a luz política depende cada vez mais da Justiça para se manter acesa é sinal de esgotamento de um período.
Ninguém sabe o final dessa novela. Mas existem roteiros bastante conhecidos que apontam para uma crise cujo túnel ainda não dispõe sequer de uma vela acesa.