Conheço duas senhoras que não se acertaram como agentes públicos em suas carreiras políticas, salvo se fossem alocadas no setor paisagístico para manter a grama aparada
No idos dos anos 1990, comentei com um amigo que a mulher que comandava a principal cidade do Vale precisava tomar cuidado. E avancei o sinal com uma frase infeliz e poderia ser taxado de machista: “Se ela tropeçar e cair de quatro não vai se levantar porque vai preferir aparar a grama do Paço”.
Ex-prefeita da São José dos Campos, em plena exibição na Câmara Federal
Quem é a dama?
Na madrugada do dia 23 de março de 2006, essa senhora já grisalha, trajando vestido amarelo e óculos de grau, levantou-se de sua cadeira no plenário da Câmara dos Deputados e começou a sambar. O Carnaval já havia terminado, o Brasil começava a retomar suas atividades produtivas. Mas a alegria da deputada tinha uma razão de ser. Ela comemorava absolvição de João Magno, então deputado pelo PT de Minas Gerais, que seria condenado em outubro de 2012 pelo STF.
A bailarina dançou e se tornou um dos símbolos do escândalo do Mensalão. Na verdade, apenas uma prévia do que viria acontecer com a Operação Lava Jato. Naquele mesmo ano, a sambista improvisada foi derrotada na sua tentativa de reeleição a deputada federal com pouco mais de 37 mil votos.
Em 2008, conseguiu se eleger para a Câmara de Vereadores de São José dos Campos com 4.329 votos. Foi reeleita em 2008 com 3.268 votos. Em 2016, não foi reeleita vereadora, tendo recebido 2.291 votos. Dificilmente conseguirá sair do buraco político em que se meteu.
Quem é a outra?
Odila Maria Sanchez, 53 anos, secretária de finanças da prefeitura de Taubaté, é servidora de carreira, companheira do ex-prefeito Bernardo Ortiz, pai do atual titular do Palácio do Bom Conselho.
Odila Sanches e Bernardo Ortiz no casamento de Ortiz Jr, em 2007
Odila é considerada uma técnica. Serviu todos os governos anteriores, independente dos conflitos provocados pelo seu marido/companheiro. No governo do enteado Júnior, ela faz parte da cota de cargos administrados pelo velho Ortiz.
Mas a técnica tem cometido pequenos grande enganos. O último, que a colocou no mesmo nível da dançarina da pizza, refere-se à cobrança do IPTU. Os erros são primários e envolvem estabelecimentos bancários selecionados a dedo. Por exemplo:
- Um grande número de carnês foi distribuído depois de vencidos os primeiros prazos. Como pagar no prazo um boleto que vencia no dia 21 de fevereiro que chega em casa na tarde de 24, sexta-feira? Consequentemente, como como pagar a primeira de dez parcelas que vencia no mesmo dia 21?
- Os boletos só podem ser pagos nos bancos credenciados cuja relação está “disponível no site da prefeitura”, e após o vencimento o boleto original perde validade e o contribuinte está obrigado a dirigir-se à prefeitura para recalcular o valor do IPTU e receber um novo boleto.
Uma secretária de finanças tão criativa poderá sofrer a mesma síndrome que levou a dançarina da pizza pro brejo.
Ah, tem um detalhe. Os bancos agem como agentes da prefeitura. Pelo menos é o que acontece com o Santander. Na quarta-feira, 1º de março, esse escriba permaneceu na fila por mais de 3 horas para pagar uma parcela de um débito da dívida ativa no valor de R$ 42,37. Isso mesmo, quarenta e três reais e trinta e sete centavos. Sabe por que? Porque o cálculo é feito em UFESP, no caso era de 1,69 ufesp, que em fevereiro era de R$ 25,07 cada unidade do imposto. E no Santander a gerente da conta Van Gogh sequer sabia os detalhes exigidos pela prefeitura, mandando esse escriba septuagenário para a fila do caixa.
Essa brilhante secretária deve dar o braço para o banco com sua carteira de clientes van bobos e explicar para os trouxas dos contribuintes porque não podem pagar seus carnês no Banco do Brasil ou em qualquer outro banco, como acontece com todos os boletos bancários. Menos os da prefeitura da terra de Lobato.
Mas a técnica precisa ter muito cuidado para não cruzar com a dançarina no mesmo gramado.