Paulo de Tarso Venceslau

Os últimos acontecimentos que culminaram com a morte de Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STF) e relator da Operação Lava Jato, podem virar um roteiro (ou receita?) de muita imaginação ( ou tempero?).

Vigiado e ameaçado por muita gente descontente com seu comportamento na condução da Lava Jato, o ministro Zavascki pode ter sido monitorado diuturna e minuciosamente nos últimos tempos. No mínimo. Por exemplo: a solução de um problema de uma prefeitura do interior, por exemplo, teria consumido um “investimento” em torno de R$ 12 milhões para garantir a manutenção do prefeito. Imagine então o custo e a sofisticação da parafernália que estaria em uso para obter algum flagrante que pudesse comprometer os responsáveis por decisões que já levaram e poderão levar ainda muito mais gente para a cadeia, além de outras punições que envolvem a elite política e empresarial desse País.

 

Pimenta

A presença de duas mulheres no acidente aéreo de quinta-feira, 19, atiçou pensamentos e elucubrações de muita gente. Como diria Millôr Fernandes (que falta que faz…), “livre pensar é só pensar”. O que estariam fazendo, por exemplo, essas duas moças com dois senhores quase septuagenários? No dia seguinte, a imprensa informou tratar-se da professora da rede municipal de Juína (MT) Maria Hilda Panas Helatczuk, 55, e de sua filha, a estudante de fisioterapia e massoterapeuta Maíra Panas, 23.

Maira e Maria Hilda

Maira e Maria Hilda

Pode ser que tenha saído pela culatra um dos tiros preparados para acabar com o ministro Zavascki. Para os contrariados pela Lava Jato, mais importante que tirar a vida do relator desse processo é conseguir desmoralizá-lo. Talvez mal informados, imaginaram tratar-se duas mulheres de programa. Mas o silêncio sobre as respectivas identidades pesou no tempero.

Se o golpe desse certo, imaginem a grande mídia divulgando que o ministro e o amigo empresário estariam em uma grande orgia. No mesmo dia, a mesma mídia repetiria ad nauseam que um membro do STF envolvido nesse tipo de aventura não teria moral para julgar a elite empresarial e política envolvida na Lava Jato.

Um pouco mais de tempero foi colocado pelo presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, quando declarou que “é imprescindível a investigação das circunstâncias nas quais ocorreu a queda do avião em que viajava”. A pergunta que não quer calar salta à nossa frente: o presidente da Ajufe refere-se à queda do avião e não do acidente, por que?

Um amigo sociólogo e historiador renomado e colaborador do CONTATO telefonou-me da Alemanha para perguntar se eu sabia “o que estaria fazendo um ministro do STF no avião de um empresário? Um ministro da Suprema Corte jamais poderia aceitar um convite como esse de um empresário”.

Aviao sendo resgatado

Não consegui responder, mas nada impede que a grande mídia possa levantar o mesmo questionamento. Meu amigo lembrou ainda que o código de conduta ética dos agentes públicos, no seu artigo 10º, proíbe que os mesmos recebam qualquer mimo com valor superior a R$ 100. Imagine se algum político respeita essa regra!

Na minha modesta opinião, trata-se de um prato cheio para os interessados em desmoralizar os membros do STF. Nesse mesmo saco poderia ser colocado a ministro Gilmar Mendes que aceitou carona no avião do presidente para viajar para a Portugal por ocasião dos funerais de Mário Soares, ex-primeiro ministro e ex-presidente de Portugal. Será que Mendes teria se esquecido que brevemente estará julgando a dupla Dilma e Temer por causa dos estranhos financiamentos da campanha eleitoral de 2014?

Aos poucos, fica cada dia mais apetitoso o manjar que está sendo preparado pelos envolvidos na Lava Jato. Uma gororoba que será enfiada goela abaixo do cidadão contribuinte.

Tomara que essa receita não passe de uma fantasia. Caso contrário…