Fachin leva três anos para reagir a pressão militar sobre STF
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a interferência militar no Judiciário e “intolerável e inaceitável”. Ele está certo, mas está atrasado.
Em abril de 2018, o general Eduardo Villas Boas disparou dois tuítes em tom ameaçador antes de o Supremo julgar um habeas corpus do ex-presidente Lula.
A manifestação do comandante do Exército foi festejada pelo então deputado Jair Bolsonaro e por defensores da chamada “intervenção militar”, um eufemismo para golpe.
Na época, quase todo o Supremo silenciou sobre a interferência indevida do general. O ministro Celso de Mello foi o único a protestar, já no fim do julgamento.
A pressão de Villas Bôas deu certo. Emparedado, o tribunal autorizou a prisão de Lula. O maior beneficiário da decisão foi Bolsonaro, que concorria ao Planalto com apoio dos quartéis.
Em livro lançado na semana passada, o general conta que os tuítes foram previamente discutidos com o Alto Comando do Exército. Ele não expressou arrependimento pela afronta ao Judiciário.
Nesta segunda de Carnaval, Fachin afirmou que o relato de Villas Bôas é “gravíssimo e atenta contra a ordem constitucional”. É verdade, mas parece que o ministro levou quase três anos para descobrir.