Fernández e Bolsonaros, dois prováveis presidente, obrigados a conviver
Aberto Fernández, 60 anos, professor de Direito, foi vereador em Buenos Aires e nada mais pelo voto em sua vida até se eleger, ontem à noite, presidente da Argentina no primeiro turno.
Jair Bolsonaro, 65 anos, ex-capitão do Exército, foi deputado federal ao longo de 28 anos e nada mais pelo voto até se eleger presidente do Brasil em outubro do ano passado no segundo turno.
Fernández veio da direita para a esquerda. Alguns acham que ele não chegou a tanto. Com boa vontade, à centro esquerda. Bolsonaro sempre foi de extrema-direita e faz questão de nela permanecer.
Nem o mais sonhador dos peronistas teria sido capaz de imaginar há três anos que Fernández acabaria por encabeçar uma chapa com a ex-presidente Cristina Kirchner de vice.
Maurício Macri entre Cristina Kirchner e Alberto Fernández, o grande vencedor
Ele foi chefe do gabinete dela na Casa Rosada até que os dois se desentenderam. Por quase 10 anos não trocaram uma palavra. E Fernández tornou-se um dos mais duros críticos de Cristina.
Bolsonaro não precisou brigar com ninguém, nem reconciliar-se com ninguém para ser candidato à sucessão de Michel Temer. Reuniu os filhos, deu ordem unida e saiu em campanha.
Empenhado em construir uma alternativa para o peronismo sem Cristina, Fernández convenceu-se ou foi convencido de que o melhor seria compor-se com ela desde que isso fosse possível.
A princípio, Cristina não admitia vê-lo nem que ele reluzisse a ouro. Depois, ré em 12 processos por corrupção, ela finalmente admitiu que sua reeleição seria difícil e concordou em lançar Fernández.
Se tivesse dependido de Bolsonaro, Maurício Macri, que cederá a Casa Rosada a Fernández, teria sido reeleito. Bolsonaro tentou interferir várias vezes na eleição argentina. Sem sucesso.
Se dependesse de Fernández, Lula já estaria livre a essa altura. Ontem, pela manhã, Fernández saudou Lula no Twitter. À noite, no seu discurso de vitória, gritou “Lula livre” e foi aplaudido.
Bolsonaro, abraçado a Macri, tem sido um péssimo cabo eleitoral
Fernández se elegeu porque Macri falhou na promessa de tirar a Argentina do buraco econômico em que Cristina a deixara. Hoje, a situação da Argentina é muito pior.
Sem programa de governo, sem ter feito campanha depois da facada que levou, Bolsonaro se elegeu por conta da crise econômica legada por Dilma e dos escândalos de corrupção do PT.
Na Argentina, o peronismo está em cartaz desde os anos 40 do século passado. No Brasil, o bolsonarismo é invenção recente. Só se afirmará como um fenômeno se vencer outra vez em 2022.
O Brasil e a Argentina são históricos parceiros. Juntos representam 63% da área total da América do Sul, 60% da sua população e 61% do seu Produto Interno Bruto.
No comércio, a Argentina é o terceiro maior parceiro do Brasil. Só perde para a China e os Estados Unidos. E o Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina.
O peso econômico que cada um representa para o outro deverá se sobrepor às diferenças políticas entre os dois presidentes improváveis que serão obrigados a conviver em breve.
Bolsonaro estendeu as mãos para os árabes depois de ter dito que sua afinidade era com Israel. E foi à Pequim negociar com os comunistas apesar de repetir que o comunismo ameaça o mundo.
Em meados de 2017, o grupo terrorista Estado Islâmico já havia destruído 12 sítios arqueológicos no Iraque, assim como uma mesquita de mais de 800 anos na cidade de Mossul.
Mas sempre que encontrava arcas carregadas de dólares nesses e em outros lugares, o grupo as preservava intactas. Nem terrorista é louco para rasgar dinheiro.