Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, comunico: tem disco novo na praça, Avenida Atlântica – Guinga + Quarteto Carlos Gomes (selo SESC SP)
Cada vez que eu ouço Guinga descubro detalhes que antes não sacara. Desde as introduções, passando pelas harmonias e melodias, sempre há finas minudências a notar em sua obra – a essa altura grandiosa. Guinga é um gênio detalhista. Seu dom se assemelha ao do ourives: ambos criam preciosidades e as entregam à eternidade.
Com o Quarteto Carlos Gomes, integrado pelos virtuosos Cláudio Cruz, (regente e 1º violino), Adonhhiran Reis (2º violino), Gabriel Marin (viola) e Alceu Reis (violoncelo), Guinga gravou treze de suas composições.
Responsável pelos arranjos, valendo-se dos recursos das cordas do quarteto e do violão de Guinga, Paulo Aragão concebeu sonoridades admiráveis.
“Meu Pai” (Guinga) tem o quarteto na intro e no intermezzo, ambos remetendo-se à melodia. Guinga é emoção.
Seu violão toca a intro de “Tom e Vinícius”. O quarteto logo vem e todos vão até restar violão e violino: clima propício à reflexão sobre o belo.
“Odalisca” (Guinga e Aldir Blanc) tem o violão logo seguido pelas cordas. Juntos, seguem.
“Chapliniana” (Guinga) faz lembrar que Chaplin e Guinga têm tudo a ver. Violão e as cordas do quarteto, estas em pizzicato, conversam entre si.
Guinga
“Avenida Atlântica” (Guinga e Thiago Amud), além de ser linda e de titular o álbum, tem intro com o quarteto remetendo a “Copacabana” (Braguinha e Alberto Ribeiro). A seguir chega Guinga, dedilhando o violão até que um acorde das cordas fecha a tampa. Meu Deus!
Paulo Aragão teve a ideia de ajuntar “Capital” (Guinga e Simone Guimarães), “Casa de Villa” (Guinga e Mauro Aguiar) e “Henriquieto” (Guinga e Aldir Blanc), com elas concebendo a “Suíte Casa de Villa”: o 1º movimento tem arranjo brejeiro para a música festiva; já o 2º é mais denso e tem o cello em destaque; por fim, o 3º tem arranjo irrequieto… afinal, o título do frevo é “Henriquieto”.
“Domingo de Nazareth” (Guinga) tem os violinos como destaque na intro. Entoando vocalises, vêm Guinga e seu violão. Logo as dez mãos contraponteiam, brindando-nos com seus encantos.
Para “Saci” (Guinga e Paulinho Pinheiro), Guinga compôs nova intro (ah!, suas intros sempre inspiradas). A força da música cresce com um desenho do cello. No intermezzo os violinos, em pizzicato, dialogam… Deus do céu!
Em “Par Constante” (Guinga e Aldir Blanc), Guinga inicia com vocalises, enquanto o quarteto brilha no arranjo.
“Pucciniana” (Guinga) tem intro das cordas. Guinga entoa vocalises que exigem seus graves. As cordas tocam delicadamente, como se desejassem ouvir a voz do gênio desassossegado.
“Canção da Impermanência” (Guinga) fecha a tampa de forma incontestavelmente sublime. As cordas vêm, e vêm com a elegância virtuosa de sempre. Com elas, a música de Guinga sobe mais alguns degraus da pirâmide artística que representa o ofício de fazer da música algo de mística espiritualidade.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4