Era de vidro a estima que Jair Bolsonaro parecia nutrir pelos militares que convocou para ajudá-lo a governar. Em dez meses, trincou seis vezes. O capitão expurgou do seu governo meia dúzia de generais. O penúltimo foi o quatro estrelas Maynard Marques de Santa Rosa, que deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
Depois que Bolsonaro mandou para o olho da rua um amigo de três décadas, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, desalojado do comando da Secretaria de Governo da Presidência, ficara entendido que a lâmina seria implacável. Mas não se imaginou que, sob o capitão, farda viraria um outro nome para instabilidade no emprego.
Já ficaram pelo caminho os generais Franklimberg de Freitas (Funai), Juarez Cunha (Correios), João Carlos Jesus Corrêa (Incra) e Marco Aurélio Vieira (Secretaria Especial de Esporte). Agora, Maynard Santa Rosa (Secretaria de Assuntos Estratégicos). Santos Cruz, o precursor, foi substituído por outro general: Luiz Eduardo Ramos. Que já recebeu da deputada Joyce Hasselmann um alerta: “Você será o próximo”.
A conversão de generais da reserva em funcionários civis despertara muita expectativa. Os pessimistas apostavam na militarização camuflada de um governo supostamente civil. Os otimistas contavam com o talento dos ex-companheiros de caserna para civilizar um presidente que se considera militar a despeito de ter sido excluído da tropa por indisciplina.
General Augusto Heleno ainda resiste no seu cargo
Frustraram-se todas as apostas. Nem o governo se militarizou nem o presidente foi civilizado. Abriu-se uma terceira via, que conduz os generais gradativamente à porta de saída sob dois pretextos, ambos humilhantes: hipotética incompetência ou manifesta incompatibilidade com o alto-comando ideológico do governo, chefiado por Olavo de Carvalho desde o estado americano da Virgínia.
Virou fumaça a suposição de que algum general ilustrado faria ao Brasil o favor de tutelar um capitão indomável. Sucede o contrário. Um general como Augusto Heleno, por exemplo, segura-se na chefia do Gabinete de Segurança Institucional contemporizando com ideias amalucadas como a de Eduardo Bolsonaro.
O filho Zero Três do presidente sugeriu um “novo AI-5” como resposta a uma eventual radicalização de esquerda. E Heleno: “Se ele falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter. Mas até chegar a esse ponto tem um caminho longo”.
Quer dizer: o governo Bolsonaro tornou-se um martírio para os generais. Ou saem com a fama de incompetentes ou com a pecha de melancia (verde por fora, vermelho por dentro). Para ficar, precisam se infiltrar no meio dos insensatos. O problema é que as pessoas que observam à distância já não conseguem distinguir quem é quem.
Num governo assim, convertido em palco de guerra, bater em retirada passou a ser uma grande vitória para os generais.