A campanha eleitoral ainda não começou oficialmente, mas os petardos trocados indicam que a violência poderá atingir níveis que a chamada “civilização moderna” parecia ter superado
Qual é o limite? Onde vamos parar? Ninguém tem resposta para perguntas simples e elementares como essas. Mas existem algumas pistas.
Em março do ano passado, em reunião com representantes da extrema direita nos EUA, Bolsonaro declarou: “Eu sempre sonhei em libertar o Brasil da ideologia nefasta de esquerda (…). O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz”.
Nesse jantar, Bolsonaro foi acompanhado por Olavo de Carvalho e Steve Bannon, articulador de um movimento de extrema direita internacional e um dos responsáveis pela estratégia da campanha eleitoral de Donald Trump. Para eles, a socialdemocracia não passa de inimigos comunistas disfarçados. E até o Papa é comunista.
Olavo de Carvalho ao lado de Bolsonaro no jantar nos EUA em março de 2019
Não admitem, por exemplo, que o mundo mudou. Para eles, por exemplo, a Terra continua plana, o ser humano é fruto do criacionismo e “o rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo”, nas palavras de Dante Mantovani durantes sua curta passagem pela Funarte.
No fim de semana, o alvo foi o médico Dráuzio Varella. Seu crime: ter abraçado uma detenta trans durante o programa Fantástico, da Rede Globo. Zero Dois, deputado federal, comandou a ofensiva. No domingo, 08, Abraham Weintraub, ministro da Educação, engrossou o coro: “Desejo que vocês acabem no inferno”.
As comemorações por ocasião do 08 de março, Dia Internacional da Mulher, no Brasil, foram marcadas por críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
E a revista Fórum veiculou matéria com a manchete: “Foto de Flávio Bolsonaro com coronel preso por estupro de criança de 2 anos cai na rede após ataques a Dráuzio Varella”. Coronel Pedro Chavarry Duarte, foi preso em flagrante em 2016 por ter estuprado uma menina de apenas dois anos, que foi encontrada nua e aflita no banco de trás do seu carro.
A Fórum afirma que, segundo a Polícia Militar do Rio de Janeiro, uma criança e um adolescente, vítimas dos crimes cometidos por Chavarry e seu grupo, eram levadas para o local onde ocorriam os estupros vendadas e com fitas adesivas tapando suas bocas. Confira em https://revistaforum.com.br/politica/foto-de-flavio-bolsonaro-com-coronel-preso-por-estupro-de-crianca-de-2-anos-cai-na-rede-apos-ataques-a-drauzio-varella/
Senador Flávio Bolsonaro ao lado do coronel acusado de ser estuprador
O jogo está ficando muito pesado. A política deixou de existir. Ninguém se interessa em divulgar e debater propostas de governo.
A memória pouco interessa até mesmo para advogados. Um deles, por exemplo, está convocando amigos para a manifestação no próximo dia 15 para atacar o STF e o Congresso Nacional. Curiosamente, esse advogado era cunhado de um taubateano preso e torturado com sua esposa, antes de serem assassinados e seus corpos incinerados em uma usina. O comandante desse crime foi um coronel do Exército, idolatrado pelo presidente.
São informações preocupantes e pouco animadoras.
A saída pode ser o salve-se quem puder.
O holocausto pode ter sua versão nacional.