Bandidos ainda não identificados pela Polícia arrombaram na madrugada de terça-feira, 01, e quarta-feira, 02, as instalações da redação do Jornal CONTATO, roubando computadores e máquina fotográfica

 

O telefone toca às nove hora da manhã de quarta-feira, 02, na residência do diretor de redação que atende e ouve do funcionário responsável pelo setor administrativo financeiro: “A redação foi arrombada. Está toda desarrumada. O senhor levou seu notebook?” “Não!” “Então ele foi roubado”.

Era o início de um dia que ficará marcado na história como mais uma prova da insegurança que existe na prática do jornalismo investigativo, ou apenas mais uma prova dos riscos vividos pelos cidadãos de bem nas ruas dessa e doutras urbes.
Imediatamente foram acionados os advogados. A primeira orientação: não tocar em nada até a chegada a Polícia Científica.

 

Os marginais entraram pela porta localizada nos fundos da casa arrombada, provavelmente, com um pé-de-cabra

Os marginais entraram pela porta localizada nos fundos da casa arrombada, provavelmente, com um pé-de-cabra

 

Estragos

O (s) bandido (s) fizeram duas tentativas. Na primeira, não conseguiram arrombar a janela de vidro blindex da sala do diretor de redação. Mas foi nesse local que a policial perita criminal conseguiu colher uma impressão digital em condições de ser analisada.

A segunda tentativa foi marcada pelo sucesso, graças a um provável pé-de-cabra utilizado para arrombar a porta localizada nos fundos da casa. Uma avaliação preliminar aponta para um objetivo: o notebook do diretor de redação onde estão ou estavam arquivadas imagens, textos e informações acumulados ao longo de mais de 10 anos. Um prejuízo incalculável.

 

Vândalos espalharam papéis e documentos pela casa; eles levaram dois computadores e uma máquina fotográfica

Vândalos espalharam papéis e documentos pela casa; eles levaram dois computadores e uma máquina fotográfica

 

Contextualização

Os papéis pareciam ter sido espalhados dentro de uma lógica bastante elementar para induzir à primeira vista que se tratava de ação de vândalos. E aí começam as dúvidas sobre os responsáveis por esse crime. CONTATO não vai apontar o dedo para ninguém, mas não pode deixar de cumprir um compromisso com seus leitores. Caso esse crime seja desvendado, nossos leitores poderão entender como se faz uma reportagem investigativa.

A regra básica é o princípio consagrado pelo jornalista Cláudio Abramo, “pai adotado” pelo diretor de redação, que diz que o “jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”. Os jovens estudantes, ou recém formados nessa profissão que passaram pela redação de CONTATO, cansaram de ouvir: repórter não pode ter uma tese que ele queira provar antes de iniciar seus trabalhos. Ou ainda, que a reportagem investigativa pode conduzir para conclusões inesperadas e até contraditórias com as primeiras impressões e/ou informações.

Por essas e outras razões, mesmo não apontando para um suspeito, CONTATO se sente na obrigação de compartilhar informações recentes dessa semana veiculadas na grande imprensa, sem deixar de lado a hipótese de que tudo não passe de uma ação isolada de marginais em busca de algum recurso para a aquisição de drogas.

 

Os marginais tentaram, mas não conseguiram entrar pela janela; a policial perita criminal conseguiu colher uma impressão digital em condições de ser analisada

Os marginais tentaram, mas não conseguiram entrar pela janela; a policial perita criminal conseguiu colher uma impressão digital em condições de ser analisada

 

Boechat na Band News FM

O mês de março começou pondo lenha na fogueira. Ricardo Boechat, da Band, logo cedo analisou a exoneração do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e fez longa referência ao episódio ocorrido em 1993 e denunciado publicamente por Paulo de Tarso Venceslau, diretor de redação de CONTATO, quando estava secretário da Fazenda de São José dos Campos, governada pela petista Ângela Guadagnin.

Boechat reproduz a opinião de Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Band, que afirmou “se Lula tivesse atuado na época (para apurar as denúncias feitas por Venceslau) teria matado o ovo da serpente”. Em seguida o jornalista conta que Cardoso foi um dos três membros do PT indicados para fazer o relatório para o partido, cuja conclusão era um pedido de punição para o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula e representante da empresa que estava envolvida naquele episódio. “Lula ‘estalinizou’ (referência a Joseph Stalin, da antiga União Soviética) o processo, acusou Venceslau de traição e o expulsou do partido”.

Venceslau recebeu dezenas de ligações telefônicas de diferentes partes do Brasil parabenizando-o.

 

Estadão

No mesmo dia 1º de março de 2016, o jornal Estado de São Paulo publicou um editorial afirmando, entre outras coisas: “É politicamente arriscada a bem-sucedida manobra de Lula e do PT para substituir o ministro da Justiça, que sempre acusaram de “não fazer nada” para conter as investigações policiais que levaram vários dirigentes do partido para a cadeia e chegam aos calcanhares do ex-presidente”.

Mais adiante: “Deu-se agora algo como o chamado “caso Cpem” de 1997, quando uma comissão de investigação do PT integrada pelo então vereador paulistano José Eduardo Cardozo, Hélio Bicudo e Paul Singer apoiou as denúncias do ex-secretário da Fazenda de São José dos Campos, Paulo de Tarso Venceslau, contra Roberto Teixeira, amigo e advogado de Lula, acusado de se beneficiar ilicitamente de contratos sem licitação da empresa de consultoria Cpem com administrações municipais petistas. Lula e a tigrada tiveram uma reação enérgica: expulsaram Paulo de Tarso do partido. E, como se vê, até hoje, quase 20 anos depois, não perdoaram José Eduardo Cardozo”.

Dois dias depois, o mesmo jornal publicou como manchete: “Jornal de pivô do caso CPEM é depredado” e abre com o texto “O semanário Contato, de Taubaté, foi invadido, depredado e alvo de furto qualificado na noite de anteontem. O jornal é do economista Paulo de Tarso Venceslau. Ele registrou boletim de ocorrência com o delegado Horácio Martins Campos, da Delegacia de Investigações Gerais do município”.

É importante relembrar que em 1993 Venceslau sofreu um atentado na então rodovia dos Trabalhadores, hoje Ayrton Senna.

 

Taubaté

Na edição anterior CONTATO veiculou uma nota a respeito de um mal-entendido ocorrido porque as pessoas citadas poderiam ser confundidas com a de um cidadão com um comportamento pouco recomendável. Esse cidadão surrupiou, por exemplo, um dossiê a respeito de um ex-prefeito que Venceslau tinha recebido, e o vendeu para o filho do ex-prefeito. Naquela época, esse mesmo cidadão que estava separado da esposa poucos meses após contrair núpcias, contratou capangas que espancaram dentro de um restaurante o namorado da ex-esposa.

Todas as possibilidades precisam ser investigadas e checadas antes de qualquer conclusão. Mas, evidentemente caberá à Polícia Civil a responsabilidade pela apuração do crime devidamente registrado. A existência de uma impressão digital devidamente colhida pela perícia policial poderá contribuir para o esclarecimento desse triste episódio. Assim como a sua não elucidação poderá inscrever Taubaté no rol das cidades em que a liberdade de imprensa está ameaçada.

Toda força à Polícia Civil para esclarecer o mais rápido possível esse triste acontecimento.