A fábula “A galinha dos ovos de ouro” lembra o desejo incontido do homem avaro: matou a galinha buscando o ouro; quis tudo e não teve nada; perdeu o ouro e a galinha
Avareza pode ser pensada, num primeiro momento, como sendo a paixão de acumular, o apego aos bens materiais. O avaro é chamado pelo povo de pão-duro, casquinha, unha-de-fome, mão-de-vaca, muquirana, tacanho, sovina. É o indivíduo mais caricato e tolo. Afinal de contas, ele esquece que nasceu nu e nada levará para o outro mundo.
Os dicionários assim definem a avareza: “1. Excessivo e sórdido apego ao dinheiro. 2. Falta de generosidade, mesquinhez”.
Judas pode simbolizar os avarentos, pois que, por sua avareza tornou-se traidor de Cristo.
A traição é uma das sete filhas da avareza, a saber: a fraude, a mentira, o perjúrio, a inquietude, a violência e a dureza de coração. A distinção entre elas se estabelece do seguinte modo. A avareza comporta duas atitudes, uma das quais é o excesso de apego ao que se tem, do qual procede a dureza de coração, o ser desumano, que se opõe à misericórdia, porque evidentemente o avaro endurece seu coração e não se vale de seus bens para socorrer misericordiosamente alguém.
A outra atitude própria do avaro é o excesso no afã de ajuntar para si, do qual procede a inquietude, que impõe ao homem preocupações e cuidados excessivos.
Em Lucas (12:15) Jesus acrescenta uma advertência: “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” “O avaro nunca se sacia de dinheiro”, diz a Bíblia em Eclesiastes (5, 9).
A palavra avareza, segundo a significação originária, está ligada a uma desordenada ambição de dinheiro, como diz Santo Isidoro no livro das Etimologias (X, 9): avarus é como que “avidus aeris“, ávido de dinheiro, em consonância com a palavra correspondente em grego filargiria, amor à prata. Por sua vez, Agostinho afirma haver uma avareza “geral”, pela qual se deseja mais do que o devido alguma coisa, e uma avareza “específica”, à qual se chama usualmente amor ao dinheiro.
Outros situam a avareza como oposto da generosidade e, nesse sentido, a avareza é um defeito, uma deficiência, no que diz respeito a gastar dinheiro e um excesso no que diz respeito à sua busca e retenção.
Já Tomás de Aquino fala da avareza como oposto da justiça, no sentido de que o avaro recebe ou retém bens de outros, contra o que é devido por justiça.
Diversos escritores incluíram o tema “avareza” em suas obras. Shakespeare, por exemplo, em “O mercador de Veneza”, dá lições de generosidade e mostra a condenação da avareza.
O poderoso e avaro Harpagão é o principal personagem do clássico “O Avarento” escrito pelo dramaturgo francês Molière (1622-1673) há mais de 370 anos.
Harpagão é tão mesquinho que rouba a alegria, a juventude e o amor das pessoas que o cercam. Por isso, quer casar a filha com um homem que ela não ama: o rico Anselmo, quando, na verdade, ela é louca pelo jovem Valério. Para o filho Cleanto, Harpagão também quer garantir um futuro promissor ao arranjar o casamento com uma rica mulher. Ele mesmo decide casar-se com uma jovem 40 anos mais nova que ele, a bela Mariana, paixão de seu filho.
Num país pobre como o Brasil, ser avarento é um pecado mais que capital, é um crime social.
Por Antônio Marmo de Oliveira, antonio_m@uol.com.br