Professor Marmo faz um rápido apanhado de conceitos a respeito do tempo,
uma ideia que filósofos das mais diferentes regiões, crenças e religiões tentam explicar
Os ciclos
Observamos vários ciclos da natureza (ciclo do dia e da noite, das fases da lua, do movimento das estrelas, das estações do ano), com o tempo histórico quando este trata da construção dos calendários, das histórias de indivíduos, de povos, ou da humanidade (a vida e a morte, as idades ao longo da vida, a repetição dos meses de um ano a outro).
O tempo se revela acima de tudo na natureza. No movimento do Sol e das estrelas, … nos indícios sensíveis e visuais das estações do ano. Tudo isso é relacionado aos movimentos que lhe correspondem na vida do homem (com seus costumes, sua atividade, seu trabalho) e que constituem o tempo cíclico.
Por outro lado, temos os sinais visíveis, mais complexos, do tempo histórico propriamente dito, as marcas visíveis da atividade criadora do homem, as marcas impressas por sua mão e por seu espírito: cidades, ruas, casas, obras de arte e de técnica, estrutura social, etc.
Em “ser” e o “não ser’,’ Platão (427 – 348 a.C.) afirmou que o tempo nasceu quando um ser divino colocou ordem e estruturou o caos primitivo. O tempo tem, portanto, de acordo com Platão, uma origem cosmológica. Platão procura estabelecer a distinção entre o “ser” e o “não ser”.
O mundo do “ser” é fundamental e não está sujeito a mutações. Ele é, portanto, eternamente o mesmo. Este mundo, entretanto, é o mundo das ideias, apreensível apenas pela inteligência e pode ser entendido utilizando-se a razão.
O mundo do “não ser’’ faz parte as sensações, que são irracionais, porque dependem essencialmente de cada pessoa”.
Para Platão, este mundo é irreal
O domínio do tempo estaria nesse segundo mundo, assim como tudo o que se observa no universo físico, tendo assim uma importância menor. Talvez possa ser dito que para Platão o tempo essencialmente não existe, uma vez que faz parte do mundo das sensações.
Construções da mente humana
A filosofia oriental parece ter sustentado que o tempo, bem como o espaço, são construções da mente humana.
Aristóteles considerava importante o mundo observado e entendia a noção do tempo como intrínseca ao Universo. Na filosofia aristotélica, o mundo existia na forma de seu modelo cosmológico geocêntrico (a Terra estática no centro dos outros astros) desde sempre. Aristóteles, como a maioria dos pensadores gregos da época, não acreditava na ideia de um momento inicial da criação do Universo, que foi dada para o mundo ocidental pela tradição judaico-cristã.
A questão de tempo cíclico ou não cíclico, portanto, aparece como uma das questões relativas às características do tempo desde as origens da ciência ocidental. Esta ideia apareceu naturalmente em função dos inúmeros fenômenos periódicos na Natureza: as marés, as estações sazonais, os dias sucedendo as noites, e assim por diante. Esses fatos conhecidos desde as civilizações mais antigas, sendo evidentes fenômenos cíclicos, levaram as civilizações primitivas, bem como os pensadores da Antiguidade a imaginarem que o tempo também seria circular, ou seja, a Natureza evoluiria de forma a se repetir.
Tempo linear e circular
O tempo cíclico dos gregos derivava também da ideia de perfeição, sempre presente na filosofia natural grega. Essa mesma ideia os induziu à escolha do círculo, uma figura perfeita, para a trajetória dos corpos celestes. Em seu “Física”, Aristóteles afirma que “existe um círculo em todos os objetos que tem um movimento natural. “Isto se deve ao fato de os objetos serem discriminados pelo tempo, o início e o fim, estando em conformidade com um círculo; porque até mesmo o tempo deve ser pensado como circular”.
A ideia de um tempo linear, sem retornos, parece ter sido defendida apenas pelos hebreus e pelo filósofo persa Zoroastro. Os cristãos introduziram a crença em acontecimentos únicos, como, por exemplo, a crucificação e ressurreição de Cristo. Estes fenômenos não se repetem. Também o apocalipse descreve o fim de um mundo, indicando que haverá o encerramento de um ciclo que não se repete mais.
No século IV, Santo Agostinho respondia à indagação sobre o que é o tempo da seguinte forma: “se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei”.