Livros devem ser livres. Plurais. Ideias alheias em confronto com as nossas nos enriquecem. Sem imposição de pensamento único. Mesmo se o que está escrito em algum livro for uma bobagem.
Algo alentador no país hoje é a sede de leitura. Apesar das dificuldades. O ensino é capenga. Bibliotecas desatualizadas, só abertas em horário comercial. Indústria livreira em crise. Grandes livrarias fechando. Compras governamentais para escolas suspensas.
Mas na contramão, há sinais animadores. Pequenas livrarias resistem. Clubes de livros e blogs literários proliferam. Professores insistem em explorar com seus alunos o potencial que pulsa na literatura. Festas literárias se multiplicam por incontáveis cidades no interior.
Livros nos dão modelos (como o “Rondon” de Larry Rother) ou mostram males a combater — da escravidão (na obra de Laurentino Gomes) ao autoritarismo (na de Lilia Schwarcz).
Laurentino Gomes e a capa de seu último livro Escravidão
Não adianta vetarem Míriam Leitão e Sérgio Abranches em Jaraguá do Sul —isso lhes dá maior ressonância. Não adianta proibir uma HQ com beijo gay —isso faz 14.000 livros sobre o tema serem distribuídos de graça. Não adianta um diretor da Funarte ofender Fernanda Montenegro — o público a cobre de carinho, o apoio a nossa atriz maior viraliza nas redes. Avelha lição: “você corta um verso, eu escrevo outro.”
A cultura resiste às ameaças do obscurantismo, cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do Estado, como lembrou o ministro Celso de Mello.
E por falar em resistência: onde se meteram nossos estudantes antenados no dia em que milhões de jovens saíram em defesa do meio ambiente, em mais de 150 países? Tão combativos ao ocupar escolas durante meses em 2016, tão aguerridos ao tomar as ruas quando não era só pelos 20 centavos de aumento na passagem em 2013, agora que nossas florestas ardem e o mundo protesta, eles não ligam a mínima? As raras manifestações aqui mal tinham meia dúzia de gatos pingados. Em sua maioria grisalhos. Que silêncio é esse? Cadê o gás da moçada?