Lobato Hoje – re-considerações – 73ª Semana Monteiro Lobato (JC Sebe Bom Meiry)

Em 1952, inspirado pelo jornalista Oswaldo Barbosa Guisard, Taubaté inaugurou a Semana Monteiro Lobato — uma celebração que mobilizou a cidade, com o apoio da Prefeitura, escolas, Rotary Club, Lyons Clube e do Clube dos 21 Irmãos Amigos. O modelo seguiu a tradição da Semana Euclidiana, de São José do Rio Preto, mas logo ganhou vida própria, tornando-se um marco cultural.

Nos primeiros anos, sob a liderança de Guisard, o evento reuniu autoridades e personalidades que conviveram com Lobato, mantendo um caráter memorialista até a década de 1970. A partir daí, ganhou novo fôlego: estudiosos passaram a debater sua influência intelectual e política, enquanto a programação se diversificava com corridas esportivas, concursos literários, exposições industriais e artesanais, atraindo um público cada vez maior. Turismo, esporte e cultura convergiram, fortalecendo uma tradição que sobreviveu a mudanças políticas e ideológicas.

Tematicamente, a Semana sempre privilegiou a literatura infantil, mas também abriu espaço para discussões sobre petróleo, educação e produção editorial — temas centrais na obra lobateana. Lobato, porém, nunca foi consenso. Em vida, foi atacado pela Igreja Católica (que queimou seus livros), pela direita (que o acusou de comunista) e por feministas (que questionaram seu conservadorismo). Hoje, o debate se desloca para as críticas do movimento negro, que enxerga em suas obras representações racistas.

Mas se há uma lição que Lobato nos deixa, é a capacidade de transformação. Sua trajetória foi marcada por reinvenções — do fazendeiro frustrado ao empresário editorial, do nacionalista ferrenho ao crítico do atraso brasileiro. Sua obra não é estática: reflete contradições, mas também um pensamento em constante evolução, dai (re-considerações).

73 anos depois, a Semana Monteiro Lobato enfrenta um novo desafio: não basta apenas exaltá-lo como ícone; é preciso reinseri-lo no debate contemporâneo, confrontando suas ideias com os valores de seu tempo e os nossos. Se antes a homenagem era sobre memória, hoje é sobre legado — um legado que exige reflexão analítica, não celebração acrítica.

Taubaté, mais uma vez, tem a oportunidade de liderar essa discussão. Não se trata de apagar Lobato, mas de lê-lo em movimento, como ele mesmo viveu: um homem que questionou, errou, polemizou e, sobretudo, mudou. E é nessa dinâmica — não no mito estático — que reside sua grandeza.

Falar de Lobato hoje é falar de um Brasil em trânsito, em busca de autocrítica e reinvenção. E é justamente por isso que ele ainda importa.

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Semana(s) Monteiro Lobato 2025

Temas: (Re)considerações e Memórias da Emília

Em 2025, a 73ª Semana Monteiro Lobato foi ampliada com uma programação intitulada “Monteiro Lobato (re)considerações” que terá um programa variado com atividades culturais, conferências, palestras, oficinas pedagógicas, certames literários, além de manifestações no campo das artes plásticas e exposições. O núcleo temático central da 73ª Semana Monteiro Lobato é reinscrição da obra do autor no panorama atual, com ênfase na responsabilidade da cidade natal do autor, Taubaté. Neste sentido, foram pensadas conferências de abrangência geral e específicas, levando em conta tanto a reavaliação de sua obra em âmbito nacional como nas implicações locais. Foram, portanto, pensadas temáticas atentas ao papel nacional e aos anos iniciais da carreira do autor. A programação é integrada com as atividades realizadas anualmente pelo Museu Monteiro Lobato voltadas ao público infanto-juvenil na Semana Monteiro Lobato.

Programação acadêmica-cultural

Tema: (Re)considerações

de 14 a 17 de abril

Programação infanto-juvenil

Tema: Memórias da Emília

de 23 a 27 de abril

Exposições

“Na Trilha de Lobato”

Conjunto de 17 painéis que mostram a trajetória do escritor Monteiro Lobato.

Local: Departamento de Ciências Sociais e Letras – UNITAU. Rua Visconde do Rio Branco, 22.

“Semanas Monteiro Lobato”

Acervo do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica-CDPH da UNITAU.

Documentos acerca da criação das Semanas Monteiro Lobato por grupo de intelectuais liderados por Oswaldo Barbosa Guisard, e sobre diversas edições.

Local: Departamento de Ciências Sociais e Letras – UNITAU. Rua Visconde do Rio Branco, 22.

“O menino Juca”

O Projeto “Na Trilha de Lobato” apresenta “O Menino Juca”. Em um conjunto de 17 painéis são apresentados a infância de Monteiro Lobato: seus pais, suas irmãs, as escolas que estudou. Um conjunto de painéis apresenta sua árvore genealógica.

Local: Museu Monteiro Lobato. Av. Monteiro Lobato, s/n – Chácara do Visconde

“O espírito do lugar”

O artista e Arte-Educador Fabio Scarenzi, durante 16 anos frequenta o Museu Monteiro Lobato e faz registros fotográficos do lugar e, também, faz trabalhos voluntários. A Exposição reúne 20 fotos retratando o lugar com afetividade e nos levará a apreciação e beleza deste patrimônio tão importante para o município e para o país.

Local: Museu Monteiro Lobato. Av. Monteiro Lobato, s/n – Chácara do Visconde

“Moradias de Lobato”

A exposição da pintora Aparecida Xavier retrata os lugares que Monteiro Lobato viveu, sendo eles: Fazenda Santa Maria, Fazenda Paraíso, Fazenda São José do Buquira, Solar do Visconde e Chácara do Visconde. Técnica: óleo sobre tela. Acervo: Osni Cruz. Local: Museu Histórico de Taubaté Paulo Camilher Florençano. Avenida Santa Luiza de Marillac, 1481