A ofensiva agora é contra os portadores de câncer só para favorecer as operadoras privadas de saúde
A pandemia ainda não acabou. Os números caminham céleres para 600 mil mortes, das quais uma parte significativa foi provocada pela posição negacionista do presidente. Ele se recusava e ainda se recusa a ler e ouvir o que ensina a ciência.
Muito provavelmente, insatisfeito com os assustadores números de óbitos provocados pela Covid, essa semana o capitão presidente vetou na segunda-feira à noite a lei que obrigava planos de saúde a custear medicamentos orais para pacientes diagnosticados com câncer. A medida foi aprovada pelo Congresso no início do mês e enfrentava resistência de operadoras de saúde. Porém, entidades médicas defendem essa lei porque viam mais conforto e opções para quem estivesse em tratamento e não pouparam críticas à decisão do presidente.
Os heroicos trabalhadores do SUS, por outro lado, não conseguem atender a demanda crescente por serviços públicos voltados para a saúde. Sentem no dia a dia a ofensiva federal aos recursos públicos cada vez mais restritos. Ministro Paulo Guedes da economia reforça o comportamento do presidente ao reduzir a participação desse segmento no orçamento da União. O ser humano e a vida não passam de números frios manipulados pelos burocratas encastelados na máquina do governo federal.
Senador José Reguffe (Podemos-DF), autor do projeto de lei que Bolsonaro vetou
Essa semana, ao desprezo do presidente e seu ministro diante de centenas de milhares de mortos foi acrescentado o veto à lei aprovada pelo Congresso que obriga as operadoras privada a custear medicamentos orais para o tratamento de câncer a custo zero para o governo. Não tem desculpa. Mas Bolsonaro insiste em mentir quando afirma que não há fonte de custeio prevista para liberar a medida. Malandramente, omite que a lei envolve apenas o sistema privado. Insiste na mentira quando argumenta que o não veto poderia implicar até em possível crime de responsabilidade. “Se eu sancionar, estou em curso de crime de responsabilidade. Aí veto. Apanho porque vetei. Por falta de conhecimento do pessoal”, afirmou.
Especialistas criticam
“Se (o presidente) tivesse lido, não teria vetado. O que tem a ver crime de responsabilidade com um projeto que gera zero gasto público?”, disse o autor da lei da quimioterapia oral, o senador José Reguffe (Podemos-DF) que trabalha para derrubar o veto no Congresso.
Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer afirma que a ampliação da quimioterapia oral é “o projeto de maior impacto na oncologia do País”.
O presidente desconhece a lei vigente, segundo Clarissa Mathias, presidente da SBOC
Clarissa Mathias, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), considera que com o veto ao projeto, o presidente “desconsidera que, ao menos desde a aprovação da Lei dos Planos de Saúde, em 1999, os medicamentos quimioterápicos de aplicação endovenosa são oferecidos pelos planos de saúde automaticamente após a aprovação da Anvisa”. Esse era o modelo da lei aprovada pelo Legislativo. “E isso nunca afetou a oferta dos medicamentos nem o preço dos planos privados de saúde foi modificado, como aponta o presidente”, concluiu.
Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP, avalia que no Brasil as pessoas com câncer, em média, vivem menos do que em outros países justamente, entre outros motivos, pelo menor acesso a tratamentos.
Mas isso não importa para o presidente genocida que insiste em ignorar um problema que atinge e faz sofrer todas ou quase todas as famílias desse hoje triste País.