Tudo indica que sim. Ontem, segunda-feira 28, os vereadores de Taubaté jogaram água no chope do ex-prefeito Ortiz Jr (PSDB)
O ex-prefeito parecia estar bem encaminhado. Parecia. Pelo menos no ninho tucano onde os caciques lhe garantiram um emprego de subsecretário de Assuntos Metropolitanos da Secretaria de Desenvolvimento Regional no governo João Doria. O cargo permitia articular com prefeitos do interior paulista sua candidatura a deputado em 2022. Seria a forma encontrada para não revelar o sonho de voltar para o Palácio do Bom Conselho em 2025.
Na tarde de ontem, segunda-feira, 28, durante sessão extraordinária, a Câmara Municipal rejeitou as contas do exercício financeiro de 2018 da Prefeitura de Taubaté, que à época era comandada por Ortiz Jr. Com isso, ele deverá estar inelegível por oito anos. A notícia caiu como uma bomba! O resultado da votação fez disparar telefonemas e mensagens de WhastApp na terra de Lobato. O cenário político foi reconfigurado.
O sonho se transformou em pesadelo. Com a inelegibilidade decorrente da votação na Câmara, o ex-prefeito está impedido de participar de processos eleitorais até 2029, quando tiver 55 anos. Ele está enquadrado na alínea “g”, do inciso I, do art. 1º da Lei Complementar 64/90. Traduzindo o juridiquês: Ortiz Jr., agora, é ficha suja!
Dos 19 vereadores, 13 votaram pela rejeição. Exatamente os dois terços necessários. Antigos aliados e até vereador do PSDB votaram pela rejeição das contas. É só conferir: Coletor Tigrão (Cidadania), Alberto Barreto (PRTB), Diego Fonseca (PSDB), Douglas Carbonne (DEM), Elisa Representa Taubaté (Cidadania), Dentinho (PSL), Marcelo Macedo (MDB), Nunes Coelho (Republicanos), Paulo Miranda (MDB), Richardson da Padaria (DEM), Serginho (PP), Talita Cadeirante (PSB) e Vivi da Rádio (Republicanos) votaram pela rejeição. Votaram pela aprovação das contas: Jessé Silva (PL), Neneca (PDT), Bobi (PSDB) e Boanerge dos Santos (PTB).
O vereador e ex-vice-prefeito Edson Oliveira (PSD) não participou da votação. Por que será? E o vereador Moisés Pirulito (PL) não compareceu à sessão por causa do acidente que sofreu na via Dutra por volta das 13h:30 quando se dirigia para a Câmara para participar da sessão que torno Ortiz Jr inelegível por 8 anos.
O patriarca Bernardo Ortiz foi traído pelo próprio filho
Ortiz Jr. foi atingido pelo efeito bumerangue nas relações políticas construídas na base do “tudo pelo poder”. Fez de gato e sapato muita gente na terra de Lobato. O carma da vida é implacável. Se não aprende no amor, aprende na dor.
Talvez por uma amnésia precoce, Ortiz Jr se esqueceu que a política local tem que ser tratada em casa. Pretensioso e arrogante, “esqueceu-se” de como conseguiu com que o ministro tucano rejulgasse seu processo no TSE que mantinha sua cassação. “Uma aberração jurídica”, segundo o ministro Herman Benjamim da mesma corte. Mas, para o então prefeito, “foi um milagre” disse para uma plateia de puxa-sacos em outubro 2016, enquanto enxugava as invisíveis lágrimas de crocodilo.
O “milagre” teria sido realizado a peso de ouro. Ou “enquanto houver quem se queira”, dizia um assessor e defensor do ex-prefeito com o gesto em que os dedos da mão pareciam folhear notas de dinheiro. Hoje, esse ex-assessor é mais um crítico daquela gestão.
A amnésia precoce o fez esquecer do relacionamento nada republicano no comando a Prefeitura e até um pequeno enorme detalhe: seu pai Bernardo não preside há muito tempo o FDE (Fundo de Desenvolvimento da Educação). Os dois primeiros anos da segunda década desse século fazem parte da história que Jr julga(va) esquecida.
O então prefeito com Johnny, importado para ser o candidato oficial da família Ortiz
Arrogante, segundo vereadores ouvidos, desprezava acordos firmados. A escolha do candidato oficial foi traumática. Nem mesmo seu pai escapou quando Jr escanteou Johnny, filho do fiel Geraldo “Bigode” de Oliveira, importado de São Paulo para sucedê-lo. Bernardo não perdoou. Não participou da campanha. Escafedeu-se. Ortiz Júnior fechou-se em copas com seus assessores pouco ou nada confiáveis. Seu candidato sequer foi para o segundo turno. A fatura desse comportamento foi apresentada ontem, segunda-feira, 28.
Segundo a legislação, são inelegíveis para qualquer cargo “os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos oito anos seguintes, contados a partir da data da decisão”.
Conclusão, com a decisão da Câmara, Ortiz Júnior poderá ficar inelegível até 2029. As festas juninas não permitirão avaliar quantos rojões foram e serão lançados nos próximos dias.