Antes, tinha em minha memória que difícil era agosto (mês de cachorro louco, dizia-se em minha cidade interiorana). E era mesmo. Nessa perspectiva, outubro resultava ser ponte entre a fadiga do ano já bastante desbastado e o almejado começo de seu fim. Contemplando nosso calendário atual, vendo os acontecimentos correntes, juro, sinto impulso para revisitar tal pressuposto. Não que agosto tenha sido leve. Nada! Mas o atual outubro está danado de espinhoso, inflamado de fatalidades consequentes. Como se a esperança estivesse desistido de chocar melhorias, seguimos, no máximo, tentando não esquecer que o futuro existe, ainda que intimidado.
Talvez, “montanha russa” seja boa imagem para o que vivemos coletivamente: os pontos altos ficam por conta de celebrações – só para citar algumas “dia da Padroeira”, “das crianças”, “dos professores”, “dos médicos”… Os abismos?! Vamos logo para o maior deles “as campanhas eleitorais” com suas expressões agressivas, impiedosas, eivadas de ódio, vinganças e ameaças. E desalento, posto seja qual for o resultado, o próximo ano será duríssimo. Com alvos muito abaixo do nível da cintura, os dois projetos políticos em jogo não se deixam detalhar e o que vemos é a personificação da crueldade travestida, sobretudo, de Fake News e fragilização da democracia.
“Há flores no pântano”, insiste o jornalista Ruy Gustavo, e tenho que concordar quando coloco em mira determinadas campanhas que atravessam tudo e lutam para pairar acima de todos. O “outubro rosa” é uma dessas válvulas de escape que, aliás, tem por objeto alertar, prevenir, amparar pessoas e famílias acometidas pelo câncer de mama. Estamos falando de um alerta que se fez bandeira internacional na raiz dos anos 1990, visando difundir a necessidade de exames periódicos. No Brasil, espaço sempre fértil e aberto aos cuidados coletivos de saúde, o grande alerta foi dado em 2018 com bem-sucedidas divulgações públicas: fitinhas rosas nas roupas, iluminação de prédios oficiais, flashs em programas televisivos e radiofônicos, entrevistas, informações nas escolas.
A dupla finalidade das campanhas, além de incentivar os necessários exames clínicos – que devem ser rotineiros e anuais -, visa também angariar fundos para pesquisas e aparelhamento instrumental de hospitais e centros de atendimentos. E isso se justifica pois, em termos de números, temos de 2020 a 2022 o registro de 66.280 novos casos. Assustador é aquilatar que diariamente perdemos cerca de 50 vidas, entre mulheres e homens. Sim, os tumores mamários atingem também pessoas do sexo masculino – só no período citado tivemos ao lado de 18.068 mulheres, 227 registros de homens.
Há, contudo, comentários ambíguos assentados em relação ao teor das campanhas: uns acham que os números não deveriam ser divulgados pois podem apavorar gerando preconceitos e discriminações; outros, pelo reverso, consideram que é fundamental exibir montantes que, exatamente por amedrontar, surtem efeito e provocam cuidados. Por uma ou outra via, convém ressaltar que os exames preventivos são recomendados com eloquência. Quanto mais cedo for constatado, melhor, mais eficiente o tratamento. A mamografia é o exame mais eficiente e o SUS oferece, mesmo com dificuldade de agendamento, oportunidade gratuita.
Além do tratamento clínico, alguns cuidados podem ajudar na detecção do mal: o exame pessoal (recomendado para mulheres, e também para homens) que demanda cuidados como a identificação de caroços duros, localizados não apenas nos seios, mas também nas axilas. Nas mulheres, vazamentos de líquidos e vermelhidões servem de aviso, e não menos significativos são os cuidados em jovens em plena fase de circulação hormonal. Àquelas nas faixas acima de 60 anos, os exames clínicos devem ser feitos ao menos a cada dois anos.
Pois é, eu não sou médico e considerei com cuidado a validade de fazer recomendações. Minha ousadia corre por conta de drama pessoal: vivi isso em família, minha esposa morreu em decorrência do tumor mamário. É com base nessa experiência que ouso romper o silencio e alertar que, por pior que seja este outubro, o rosa é a cor a ser ostentada.