“Professor, vocês combinaram com os russos?” Indagação de Garrincha ao treinador Vicente Feola, na Copa de 1958
Recebi de um querido amigo bolsonarista a foto do presidente muito à vontade na porta de um boteco em alguma cidade do litoral. A legenda diz: “Alguma vez na sua vida você pensou ver um “Presidente” descalço sentado em uma cadeira de plástico na frente de um humilde bar e SEM ESTAR BÊBADO OU MIJADO?” (destaque original)
Respondi: fotografado por um profissional pago com o meu, o seu, o nosso dinheirinho. E emendei: se o presidente se candidatar será para senador ou deputado federal. E olha lá.
Para mim, está no ar o mesmo clima do acordão de 1988. Naquela ocasião, os militares de alto coturno enquadraram o STM, Superior Tribunal Militar, que rejulgou o ex-capitão expulso do Exército e o readmitiu, porém, reformado com a mesma patente. Condição: afastar-se do Exército Brasileiro. Em seguida, Bolsonaro candidatou-se e foi eleito vereador no Rio de Janeiro. Iniciava ali sua vitoriosa carreira política. Detalhe: tribunais superiores não julgam, exceto quando houver alguma falha processual ou constitucional, que não era o caso.
Esse episódio foi esmiuçado pelo saudoso amigo e jornalista Luiz Maklouf Carvalho no livro O cadete e o capitão. Mak, como era conhecido, teve acesso a todo o processo. Bolsonaro redigiu a própria “defesa”. Inacreditável!! Mas a instituição Exército foi preservada. Era o que interessava para o Alto Comando.
Alto Comando das FFAA vive o mesmo problema de 1988
A situação vivida pelo presidente em 2021 chamou minha atenção. Pesquisa realizada no dia 14 de dezembro pelo Ipec – equipe do antigo IBOPE – mostra Bolsonaro com rejeição de 70 % e seu governo desaprovado por 68 % da população. Ninguém pode ser eleito com números como esses.
Simultaneamente, tornou-se ensurdecedor o silêncio dos militares da ativa e até mesmo aqueles de usam pijama e estão no governo federal. Tudo indica que pode ter sido dado o recado: quem ganhar leva o caneco. Eu tratei desse episódio na edição de 24 de novembro desse ano http://www.jornalcontato.com.br/home/index.php/bolsonaro-senador-ou-deputado-federal-paulo-de-tarso/ . Até então eu me baseava em análises e leituras pessoais a respeito desse assunto.
Concluí que Bolsonaro será retirado da disputa eleitoral com o apoio, quiçá iniciativa do Alto Comando, para impedir que contamine a opinião pública a respeito do Exército, tal qual em 1988. Dessa vez, Bolsonaro pode se candidatar a senador ou deputado federal para adquirir a tão desejada imunidade.
Caos na Bahia e articulações políticas não incomodam o presidente
Relatei minha opinião para diversos e variados interlocutores que educadamente não concordaram com minhas conclusões. Pouco adiantou argumentar que sistematicamente o Congresso apresenta uma PEC propondo que ex-presidentes se tornem inelegíveis e transformados em senadores vitalícios. E que recentemente o tema voltou à cena, embora negado por parlamentares governistas.
Na segunda-feira dessa última semana do ano uma fonte me telefonou para reconhecer que minha análise procedia. E foi além, um dos moradores do Palácio da Alvorada confidenciou-lhe que havia um plano B para o presidente. Seria um movimento rápido, mas pensado ao longo desses três anos marcados por episódios grotescos desmoralizantes para as Forças Armadas, especialmente o Exército.
Presidente Bolsonaro não quer saber de nada
Haveria uma única saída: se houver sinais claros e consistentes do estanque do derretimento da pré-candidatura de Bolsonaro e dados que apontem seu crescimento e competitividade para a disputa com grandes chances de vencer. Prazo: março/abril de 2022.
Mas o acordo tem temperos surpreendentes. O atual presidente não pode sair desmoralizado. Para impedir que isso aconteça, seria criado o cargo de senador vitalício. Bingo! Num único lance seria possível impedir, pelo menos tentar, a presença de Lula na disputa eleitoral. Seria a forma encontrada para convencer o presidente abrir mão de sua candidatura e ao mesmo tempo se apresentar como vitorioso com o afastamento de Lula da disputa eleitoral.
Garrincha ouvindo instruções de Feola em 1958
A peça-chave seria uma mulher que trabalha em silêncio, é eficiente e representativa do setor empresarial. Trata-se de Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias ou simplesmente Tereza Cristina, engenheira agrônoma, empresária e deputada federal, filiada ao Democratas e atual Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Como plano, pode até dar certo. Mas, como torcedor da seleção canarinho só me resta fazer a pergunta que, conta a lenda, Garrincha fez a Vicente Feola em 1958 quando o técnico da seleção tentou indicar-lhe o caminho para fazer um golaço contra a então União Soviética. “Mas, professor, vocês já combinaram com os russos?”