Fui preso político do dia 1º de outubro de 1969 ao dia 22 de dezembro de 1974, mais de cinco anos, por lutar contra a ditadura civil-militar que assolava o país.
No último domingo, 23, a colunista Monica Bergamo, da Folha de São Paulo, publicou confidências do mensaleiro condenado José Dirceu. Bergamo é porta-voz informal do PT e em particular do ex-ministro. Na sua coluna ela faz um “relato sobre a rotina do ex-ministro José Dirceu no presídio da Papuda”.
Bergamo conta que “Dirceu está preocupado. Caso a tese de quadrilha seja confirmada, ele corre o risco de passar 22 horas por dia dentro de uma cela. Terá direito a apenas duas horas de banho de sol. É assim a rotina de boa parte dos presos em regime fechado na Papuda”. Dirceu é um preso comum. Alguma dúvida?
E mais, Bergamo revela que ele “passou a sair de trás das grades por algumas horas, de manhã e à tarde. No começo, fazia a limpeza do pátio. Varria e lavava. Colocava defeito na, digamos, infraestrutura: a vassoura que usava era velha, com os fios retorcidos. Não dava para limpar direito os cantos do chão, que acabava sempre um pouco sujo”.
Os presos políticos durante a ditadura não admitiam a possibilidade de “trabalhar” na cadeia, para a cadeia. Nem durante o Estado Novo e muito menos sob a ditadura civil militar pós 1964. Sujeitar-se às regras do sistema penitenciário significaria admitir ser preso comum. Nós éramos presos políticos e ponto. Não importa que fosse a Ilha Fernão de Noronha ou a Ilha Grande ou o Carandiru. Ali, ninguém havia feito nada para locupletar-se, como o fez José Dirceu, Delúbio, João Paulo e Henrique Pizzolato.
Por isso mesmo, entendo as pessoas de bom caráter que contribuíram para a tal vaquinha, feita para pagar a multa imposta pela Justiça aos políticos presos. É um comportamento semelhante ao do Genoino que “apenas assinou o contrato” com o banco para “financiar” o partido. Quem contribuiu com a vaquinha petista ajudou a lançar uma nuvem de fumaça sobre a origem daqueles recursos. O que sustenta grande parte dos doadores tem origem pública porque proveem de servidores em cargos de confiança.
A tal vaquinha não passa de uma forma de coletar dinheiro público de forma indireta. Porém, há os que batem no peito quando revelam que contribuíram com R$ 100, tal qual Genoino fez quando era presidente do partido e assinou contratos bancários fraudulentos, confiante na impunidade. O cidadão honesto acaba se igualando com o funcionário petista que fez uma contribuição de cerca de R$ 600 mil.
Os incautos de hoje terão muito a lamentar quando vier à tona a lama ainda invisível aos mais ingênuos. Aguardem.
Paulo de Tarso Venceslau