A novela A Força do Querer que chega ao fim mostra que até no mundo do tráfico que domina morros e favelas no Rio existem valores e princípios que os políticos brasileiros jogaram no lixo, tudo devidamente divulgado por toda imprensa
Durante a campanha eleitoral de 2006 que reelegeu Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer esteve na terra de Lobato. Era presidente do PMDB. Entrevistei-o no apartamento de Regina Munhoz, viúva de um juiz, que costumava recepcioná-lo por essas bandas.
Na ocasião, seu partido não lançou candidato à presidência. Perguntado sobre aliança com o PT respondeu: “Se houver um governo de coalizão, estaremos dentro. Caso contrário, estaremos na oposição. O governo Lula queria conversar de forma muito pessoal e muito pouco institucional. Não foi possível. Quando o ministro Tarso Genro ofereceu a coalizão era muito tarde”. E fez questão de esclarecer se trata de governar junto. O presidente oferece aos aliados partes políticas do governo para que ele, partido, imprima sua política com ampla liberdade para desenvolver suas propostas. Ou seja, querem órgão público com a porteira fechada.
O PMDB entrou no governo e em 2010 Temer foi eleito vice-presidente de Dilma, passando-lhe uma rasteira em 2015. Assumiu a presidência em 2016. Seu governo é o mais desacreditado da nossa história pós ditadura. Tem patrocinado ações parlamentares que promovem o descrédito do Judiciário, o que seria inconcebível por parte de Temer, um advogado considerado um emérito constitucionalista.
Predominou o espírito corporativo do Congresso
Na sessão de terça-feira, 17, o Senado simplesmente acabou com a impunidade garantida pelo Supremo e criou um precedente que terá um efeito cascata no resto do Brasil ao rejeitar as medidas cautelares impostas pelo STF a Aécio Neves. O espírito de corpo prevaleceu. Aécio reassume o mandato de senador e o Legislativo assume que é constituído por uma espécie de casta com imunidade absoluta. O precedente deve ser seguido pela Câmara, com pelo menos 25% do plenário sob investigação. E é provável que se estenda a assembleias estaduais e câmaras de vereadores de todo o Brasil.
Traduzindo, a desejada porteira fechada de instituições federais que fazia parte das condições exigidas por Temer/PMDB para participar de um governo de coalizão se transformou em porteira arrombada para saciar o apetite insaciável de políticos e empresários inescrupulosos que vivem atrás de recursos públicos.
Nem a descoberta de R$ 51 milhões em apartamento de Gedel acordou o Congresso
Daqui pra frente, a impunidade institucional funcionará como estímulo ao assalto e à corrupção na esfera pública por essa casta à luz do dia. Não é preciso muito esforço para concluir que o próximo passo será acabar com a Operação Lava Jato. O senador cassado Delcídio do Amaral se animou com a decisão que beneficiou Aécio Neves. E consta que ele já prepara recurso ao Supremo para recuperar seu mandato de senador.
O quadro político nacional é assustador.
Alguém se arrisca a dar algum palpite?