José Carlos Sebe Bom Meihy

 

Confesso que fiquei surpreso quando descobri que a origem da inquietante frase “que país é este?!” não tem origem na indignação cantada pelo saudoso Renato Russo. Mais frustrante ainda foi saber que decorreu de Francelino Pereira, quando era presidente da ARENA – ensaio de partido político que defendia o lado mais conservador da ditadura militar. A desabonar ainda mais essa origem prosaica, soube-se que a tal expressão foi pronunciada de maneira bem rasteira, como um desabafo, quando o político esperava um elevador que não chegava, na Câmara Municipal de São Paulo. Por uma ou por outra via, porém, o sentido de preterição permanece e continua a se justificar em dimensões diversas. Pensando nessas significações eu mesmo me perguntei, mas na realidade “que país é este?!”

A fim de ser mais exato, resolvi elaborar uma reflexão sobre situações em que caberiam aquela pergunta sempre tão aflitiva. Foi quando, então, resolvi pelo filtro da fome/obesidade. A melhor fonte para tal averiguação remetia ao Relatório da ONU, datado de 2015. Comecei bem, quando aprendi que a “redução mais significativa da fome no Brasil aconteceu em 2012, nesse ano, o País alcançou duas metas da entidade internacional: cortar pela metade o número de pessoas passando fome e reduzir esse número para menos de 5% da população”. O entusiasmo inicial, contudo, logo foi embaçado por outros dados constatados frente os comentários complementares que diziam que os “subalimentados são 3,4 milhões no Brasil, pouco menos de 10% da quantidade total da América Latina, 34,3 milhões”. Então ouvi a voz do bardo Renato Russo se insinuando: “que país é este?!”

Tudo se complicou quando notei pelas recentes pesquisas do IBGE que “mais da metade da população brasileira está acima do peso (56,9 %)”. Os dados mostraram ainda que a obesidade acomete um em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais em 2013 (20,8%), sendo que o percentual é mais alto entre as mulheres (24,4% contra 16,8% dos homens). Em dez anos, a obesidade entre mulheres de 20 anos ou mais passou de 14,0% em 2003, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), para 25,2% em 2013, de acordo com a PNS. Entre os homens, o crescimento foi menor, de 9,3% para 17,5% e o acúmulo de gordura abdominal também, mostrando-se mais frequente no sexo feminino, atingindo 52,1% das mulheres e 21,8% dos homens. O oposto ocorre em relação à pressão arterial, cuja elevação foi mais comum entre os homens (25,3%) que entre as mulheres (19,5%), atingindo 22,3% da população no momento da entrevista, então, outra vez me perguntei: “que país é este”?!

Fiquei curioso quando contrastei os números e li as reflexões. De um lado temos um índice de pobreza e fome assustador. De outro, figuramos como campeões da obesidade latino-americana. Sabem o que aprendi frente a tudo isso? Que agora, mais do que nunca, vale o questionamento: “que país é este?!”.

Pode-se afirmar que o surgimento da população em situação de rua é um dos reflexos da exclusão social, que a cada dia atinge e prejudica uma quantidade maior de pessoas que não se enquadram no atual modelo econômico, o qual exige do trabalhador uma qualificação profissional, embora essa seja inacessível à maioria da população.

É inegável que a cada ano mais indivíduos utilizam as ruas como moradia, fato desencadeado em decorrência de vários fatores: ausência de vínculos familiares, desemprego, violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas, doença mental, entre outros fatores.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou entre os anos de 2007 e 2008 uma pesquisa em 71 cidades brasileiras com população superior a 300 mil habitantes, abrangendo as capitais (exceto São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Segundo essa pesquisa, cujos dados foram divulgados em 2008, há 31.922 indivíduos que utilizam as ruas como moradia, no entanto, esses números são bem maiores, pois cidades importantes não se incluíram na pesquisa.

Os municípios brasileiros que possuem mais moradores em situação de rua são: Rio de Janeiro (4.585), Salvador (3.289), Curitiba (2.776), Brasília (1.734), Fortaleza (1.701), São José dos Campos (1.633), Campinas (1.027), Santos (713), Nova Iguaçu (649), Juiz de Fora (607) e Goiânia (563).