Por Paulo de Tarso Venceslau
Na segunda-feira, 19, o Brasil acordou de ressaca. O mal-estar foi provocado pelo ministro do STF Teori Zavascki ao mandar soltar todos os presos pela Operação Lava Jato
deflagrada no dia 17 de março pela Polícia Federal que prendeu Alberto Youssef sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. Além dessa enorme fortuna, ele teria ramificações em partidos como o PT, PMDB, PP e SDD.
A liminar do ministro paralisou os oito inquéritos da operação quando autorizou a libertação de todos os envolvidos. No dia seguinte, terça-feira 20, Zavascki reconsiderou sua decisão e manteve presos onze dos doze envolvidos na Operação Lava-Jato. Com a nova decisão, apenas Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, permanecerá em liberdade depois de ter sido libertado na segunda.
O ministro argumentou que independentemente da manutenção da prisão, os autos da Lava-Jato devem ser enviados ao STF.
Homem bomba prestes a explodir
Segundo a revista Veja, Paulo Roberto Costa, o homem-bomba, como ficou conhecido, estaria profundamente deprimido e chorando “boa parte do dia na prisão”. A depressão teria como causa dezessete habeas corpus negados. Esse dado teria feito Paulo Roberto mudar de advogado.
Além disso, o semanário informa que “boa parte das empreiteiras mandou os funcionários que lidavam com o Paulo Roberto para uma temporada no exterior. As empreiteiras uniram-se na estratégia de defesa que será operada quando o escândalo da Petrobras explodir novas bombas atômicas sobre suas cabeças”.
Teoria do bode
Não é preciso qualquer expertise para concluir que tudo não passou de mais uma peça teatral, com script previamente estabelecido. Ou seja, teria sido adaptado à realidade política tupiniquim através da chamada “teoria do bode na sala”, que tem muitas versões.
A mais hilária, na minha opinião, conta que, na antiga União Soviética, logo depois da revolução comunista, muitas famílias eram obrigadas a morar juntas numa mesma casa, em condições precária e sem qualquer privacidade.
O descontentamento e as reclamações decorrentes dessa situação ameaçavam a governabilidade. Era preciso resolver aquele problema. Para tanto, foi formada uma comissão que fez uma pletora de reuniões. Depois de muitos meses, chegaram a uma conclusão: seria criada uma lei que obrigava que em cada casa fosse colocado um bode, que passaria a dividir espaço, cuidados e alimentos com todos os moradores.
Fedorento por natureza – o bode possui glândulas que exalam um cheiro forte e muito ruim – fez com que o descontentamento e as reclamações aumentassem muito. Semanas depois de suportar um bode na sala, surge uma luz no fim do túnel: o governo finalmente aceita negociar uma solução para o problema. Novas comissões foram formadas. O politburo (núcleo do poder soviético) joga pesado na defesa da manutenção do bode na sala.
Quando o limite se fez anunciar, o governo cede, revoga a tal lei e autoriza as pessoas a retirar o bode de dentro de casa. Foi uma festa. O povo ficou muito feliz! Houve até quem ressaltasse a lucidez e a generosidade dos donos do poder em permitir a revogação da tal lei.
Ninguém mais falava das condições sub-humanas, da falta de espaço ou de privacidade que havia nas casas ocupadas por várias famílias. Sem o bode a situação ficou muito boa…
Na Botocúndia (nome com que Monteiro Lobato batizou o Brasil), coube ao ministro do STF pendurar o guiso no pescoço do gato para demonstrar que a lei do bode aqui será aplicada e respeitada enquanto prevalecer a atual maioria da Suprema Corte, da qual faz parte. Traduzindo, mantendo onze presos e soltando apenas um, muita gente ficará feliz. Poucos se recordarão que se trata do homem bomba que mobilizou a própria família para destruir provas comprometedoras.
Que saudade do Chacrinha, o Velho Guerreiro, autor de bordões como “Vocês querem bacalhau?”, “Eu vim para confundir, não para explicar!” e “Quem não se comunica, se trumbica!”