Ronaldinho Gaúcho e seu irmão Assis presos em Assunção, Paraguai
O Brasil tem sofrido demais com o vírus da cafajestice. O pior é quando essa doença dos maus exemplos acomete os ídolos do futebol
Eu sei que a vida não é só isso que se vê, Ronaldinho Gaúcho. Às vezes há uma carência mal resolvida, um carrinho por trás e é preciso até se fingir paraguaio para as coisas melhorarem. Viver dói, pode ser que nem toda a grana do mundo cure — mas quem sou eu para filosofar sobre a tristeza que sufoca os corações humanos.
O problema, Ronaldinho, é que o Brasil não aguenta mais essa vocação tão coisa nossa de ídolos cafajestes, de ver as personificações mais gloriosas do país algemadas num fim de mundo qualquer e entristecendo crianças que, até o noticiário de anteontem, tudo que sonhavam na vida era ser Ronaldinho Gaúcho, fazer a molecagem genial de olhar para um lado, passar a bola para o outro, e alegrar o planeta.
Você não precisa de passaporte para entrar onde quer que seja. A casa é sua. Manda o cara da alfândega botar teu nome em qualquer site de busca e, se é que ele ainda não tinha se boquiaberto com aquele gol de falta pelo Flamengo, imediatamente o sujeito vai carimbar a permissão de entrada. O mundo está ao dispor de quem se fez amado pela capacidade de fazer sorrir em todas as línguas, com a poesia universal de jogar bola. Que onda mané é essa de falsificar passaporte? Vai entrando, Ronaldinho.
Documento de identidade paraguaio falso que Ronaldinho portava
O Brasil tem sofrido demais com o vírus da cafajestice, algo que se alastra mais medonho que a gripe chinesa. Nunca fomos tão grosseiros. O pior, Ronaldinho, é quando essa doença dos maus exemplos acomete os ídolos do futebol. Eram exatamente eles que enchiam a pátria de orgulho e, na edição do dia seguinte, aparecem nas páginas policiais em confusões com travestis numa delegacia da Barra da Tijuca. Tem acontecido muito.
Já tivemos Bruno, o goleiro espetacular que matou a namorada para não pagar pensão; o maluco Edmundo, que acelerou a mais de cem numa curva da Lagoa e matou três pessoas; sem falar do inevitável Neymar, levando sapatadas de uma maluquete que ele importou de São Paulo para meia hora de bate bola num hotel de Paris. Você fez 40 anos ontem e definitivamente, meu caro, é hora de sair dessa cela onde te meteram, voltar para casa e escolher o Ronaldinho que você quer ser pelos próximos 40 anos. O Brasil torce para que não seja o das pirâmides trambiqueiras, o dos crimes ecológicos, o das farras em muitos decibéis nos condomínios e todas essas jogadas lamentáveis que o teu irmão inventa para descolar grana. Teu patrimônio é outro.
Um gênio da arte do futebol deslumbrou gerações com gols inesquecíveis
A sobrancelha do Cristiano Ronaldo é ok, mas o alerta do YouTube toda hora oferece coleções de seus melhores lances, Ronaldinho —e eles, além de eficientes, títulos e mais títulos, abrem um sorriso na humanidade. São chaplinianos, daqueles momentos que os astronautas levam para a lua e depositam numa cratera para mostrar aos marcianos do futuro as coisas geniais de que fomos capazes. Gosto especialmente daquele gol contra o Villarreal. Você mata a bola no peito e, antes que o beque chegue, inventa uma bicicleta mortal.
Sai dessa penitenciária que não te pertence, Ronaldinho, e deixa de lado a mania otária de falsificar identidade de cafajeste paraguaio. Você foi campeão do mundo —por que continuar inventando zagueiros adversários? Viver nem sempre dá certo, mas tem muito jogo ainda pela frente — e o segundo tempo, o da virada, está apenas começando.