Marcos Vinícius tinha 14 anos, torcia para o Flamengo, gostava de rap e queria ser MC. O sonho acabou na manhã de quarta-feira. O menino foi baleado a caminho da escola, um Ciep no Complexo da Maré. Antes de morrer, disse à mãe que o tiro partiu de um blindado da polícia
Moradores contam que as operações na favela ganharam uma novidade. Agora os policiais também dispararam de helicóptero, batizado de “caveirão voador”. Numa região repleta de creches e escolas, repórteres do site Maré de Notícias contaram mais de cem marcas de balas no chão.
Os vídeos que circulam na internet sugerem que os agentes atiraram de forma indiscriminada. Sem protocolo de ação, os policiais abriram fogo como se estivessem numa refilmagem de “Apocalypse Now”. Faltaram a paisagem do Vietnã e o fundo musical da “Cavalgada das Valquírias”.
O resultado da operação foi pífio. Cerca de 120 homens entraram na comunidade com 23 mandados de prisão. Nenhum deles foi cumprido. A incursão deixou sete mortos, incluindo o estudante Marcos Vinícius. A polícia informou que os outros seis eram “suspeitos”, como se a lei autorizasse a matança nessas circunstâncias.
Mãe de Vinicius chora e exibe a roupa ensanguentada do filho de 14 anos
Não há lógica, a não ser a lógica da barbárie, que justifique operações de guerra em áreas densamente povoadas. É espantoso que isso ainda se repita em horário escolar, apesar dos reiterados apelos da prefeitura. Ontem, mais 17 mil alunos ficaram sem aulas na Maré. No ano passado, foram 38 paralisações provocadas pela violência.
O Rio está há quatro meses sob intervenção federal na segurança. A chegada dos militares parece não ter intimidado os chefes do crime. Apesar da promessa de reforço na inteligência, a polícia insiste na tática do bangue-bangue.
Na semana passada, o Observatório da Intervenção divulgou um balanço que aponta aumento nas estatísticas de roubos (5%), tiroteios (36%) e mortes provocadas pela polícia (34%). “Megaoperações policiais e militares se sucedem, cada vez maiores, com resultados pouco expressivos”, afirma o estudo.
Até aqui, a intervenção foi marcada pelo fim das UPPs e pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Hoje o crime completa cem dias sem solução.