Os jogadores corinthianos homenagearam a cantora no jogo contra o Botafogo com seu nome estampado nas camisetas
Cantora foi muito importante para a consagração da Democracia Corinthiana
Em 1982, Corinthians e São Paulo fizeram a final do Campeonato Paulista de Futebol. O Corinthians tinha o grande time da Democracia Corinthiana, e Walter Casagrande era o centroavante.
Quando entrou em campo, Casagrande foi parado por Fausto Silva, que na época trabalhava como repórter de campo da Rádio Globo. Faustão colocou fones nos ouvidos de Casagrande e disse:
— Casão, fala com o Osmar Santos, que está com a Rita Lee na cabine de transmissão.
Casagrande disse:
— Osmar, diz pra ela que hoje eu vou fazer o gol Rita Lee.
Casagrande prometeu e cumpriu: fez o terceiro gol do Corinthians, que foi campeão vencendo o São Paulo por 3 x 1. Osmar Santos narrou o gol Rita Lee sensacionalmente, e essa narração entrou para a História do rádio brasileiro.
Casagrande não tinha planejado nada daquilo. Teve a ideia de dar nome ao gol intuitivamente, conversando com Fausto e Osmar. Mas agiu absolutamente certo.
A corintiana Rita foi muito importante para a consagração da Democracia Corinthiana. No dia em que, num show no Ginásio do Ibirapuera, ela convidou Sócrates, Casagrande e Wladimir para subir ao palco, colocou naquele movimento futebolístico, político e social o componente pop que faltava para sua consagração.
Rita Lee fez questão de chamar Sócrates, Wladimir e Casagrande para o palco
Rita foi Democracia Corinthiana desde sempre. Tanto que, 32 anos depois, em 2014, emprestou sua voz para narrar com ritmo perfeito o documentário “Democracia em preto e branco”, do diretor Pedro Asbeg.
Conheci Rita pessoalmente quando tinha acabado de fazer 16 anos, e ela ia fazer 20. Foi em 1967, no Teatro Paramount, em São Paulo, onde acontecia o festival de música da TV Record. Nesse dia, eu era plateia, mas Rita já era palco. Fazia parte dos Mutantes, que acompanharam Gilberto Gil em “Domingo no parque”.
Depois encontrei Rita algumas vezes nas gravações de “Divino maravilhoso” e acompanhei de perto o trabalho dos Mutantes. Adoro aqueles primeiros discos, particularmente a gravação de “A minha menina” com os Mutantes cantando e o autor Jorge Ben Jor tocando violão. Rita foi também motivo de inspiração para Jorge, que compôs em homenagem a ela a deliciosa “Rita Jeep”.
Quando Rita saiu dos Mutantes, também saí. O som deles ficou pesado demais para o meu gosto. Continuei seguindo Rita nos seus shows das Cilibrinas do Éden e da Tutti Frutti. A partir de 1979, Rita e Roberto de Carvalho foram aquele estouro que todo mundo sabe. Curiosamente, naquele instante, Rita achava que não cantava bem, apesar de ser admirada pelo maior cantor de todos, o perfeccionista João Gilberto.
Tempos depois, quando montei a W/, Rita e Roberto viviam mais um dos seus auges de sucesso, mas queriam fazer mais e melhor. Lembro-me deles me visitando na agência, para conversarmos sobre caminhos mais inventivos para as capas de disco.
Nessa época, tínhamos um grande admirador em comum, o temido jornalista Telmo Martino, que metia o pau em todo mundo, mas elogiava Rita em todas as suas colunas e me chamava de “golden boy da publicidade”. Telmo era vizinho de Rita e Roberto no bairro de Higienópolis e foi homenageado por ela na canção “Raio X”.
Nesses muitos anos, assisti a todos os shows de Rita, levei meus filhos a alguns deles, sei seu repertório de cor, adoro seu senso de humor, seus personagens e imitações. Adoro o jeito como se comporta, compõe, pensa e escreve. Só discordo quando se diz que Rita é a rainha do rock, porque ela é muito mais que isso. É a rainha de todos os ritmos, seja rock, pop, bolero, new age, mambo, jazz, bossa nova, tudo.
A rainha de tudo
Anos atrás, tive uma experiência interessante com ela, que ilustra bem esse fato. Eu fazia a campanha das sandálias Rider, baseada em releituras de clássicos da música popular. Elegia uma canção conhecida e escolhia alguém conhecido e inesperado para dar uma nova interpretação. A campanha era um sucesso e, para um novo comercial, resolvi pedir a Rita que criasse uma versão da clássica “Felicidade”, de autoria do gaúcho Lupicínio Rodrigues. Rita fez uma versão que ficou sensacional e é adorada por todos até hoje.
Sem dúvida, Rita é a rainha de tudo.
A mais perfeita tradução de São Paulo e sinônimo de talento, alegria e liberdade, no Brasil e no mundo.