Flagrante captado pela lente de Dida Sampaio, o magistral fotógrafo do Estadão, é suficiente para esclarecer o que aconteceu na “sabatina” realizada pelos senadores para justificar a aprovação de Alexandre Moraes para o Supremo Tribunal Federal (STF)
Paulo de Tarso Venceslau
Todo brasileiro sabe o significado de um piscar de olho. No singular. Quando se pisca apenas um olho. A explicação mais amena é a aprovação de um ato que envolve a cumplicidade de duas pessoas. Nesse caso, o sabatinado Alexandre de Moraes pisca maliciosamente para o senador Edison Lobão (PMDB), um dos investigados pela Operação Lava Jato, que em breve estará sendo julgado pelo autor da marota piscadela. Lobão é a alma do Senado.
Um retrato do Brasil de hoje que só mesmo um artista com a sensibilidade de Dida Sampaio poderia registrar. Dida é o autor das fotos que ilustram a série de reportagens NOVAS VEREDAS: o mapa do GRANDE SERTÃO nos 50 anos da morte de JOÃO GUIMARÃES ROSA, com textos de Leonencio Nossa, depois de percorrerem regiões de Minas, Bahia e Goiás descritas no romance.
A foto de Dida Sampaio no Senado na terça-feira, 21, retrata o clima de malandragem que envolve a política no Brasil. A sabatina de Alexandre Morais foi amena assim como foram evasivas ou negativas suas respostas sobre sua proximidade com o governo, sua truculência na condução de ações de segurança pública e os evidentes conflitos de interesse.
A decisão já é motivo de chacota nas redes sociais
Nada, porém, ameaçou sua indicação. Tampouco as dúvidas sobre o papel que poderá exercer como um dos julgadores da Lava Jato, que envolve o núcleo do governo do qual fez parte. Afinal, muitos dos senadores sabatinadores também estão sob o crivo da Lava Jato. No geral, a impressão foi de uma sabatina dirigida pelas batuta do Palácio do Planalto.
As dúvidas levantadas permanecem sem respostas.
Porém, a piscadela de Moraes para o companheiro Lobão soa como uma silenciosa comemoração sobre o sucesso da empreitada. E houvesse um balãozinho com os dizeres habemus ministro “amigo” no STF poderia reforçar ainda mais a explícita cumplicidade.
Amigo e confidente do presidente, que em breve poderá ser julgado (foto internet)