Demagogia barata e populismo de palanque usados como nuvem de fumaça para esconder a realidade têm incomodado muita gente que, como eu, votou em Lula para derrotar a extrema-direita que dirigia o Brasil. Dois episódios recentes podem ajudar a esclarecer: o ataque frontal ao Banco Central e ao seu presidente, e a nomeação do seu advogado Cristiano Zanin para o STF e votou pela condenação de dois homens que furtaram R$100,00 em peças que podem ser consideradas ferramentas de trabalho.
Taxas de Juro
Cansei de ler, ver e ouvir as ameaças do presidente Lula ao presidente do Banco Central (BC). Motivo: altas taxas de juro desde o governo anterior. Mas Lula 3 nunca fez qualquer referência às taxas vigentes em seus outros governos, e silenciou sobre o recente relatório do COPOM que aprovou por unanimidade a manutenção da taxa atual de juros. Muito menos lembrar que quase a metade dos que votaram foram indicados pelo Lula 3. Conheço esse estridente silêncio desde o século passado.
Corretamente, Lula 3 tem reafirmado que os pobres sempre pagaram os custos embutidos nas elevadíssimas taxas de juro. E insiste em dizer que não concorda. Populismo barato e irresponsável da maior autoridade civil? Talvez o exemplo abaixo recheado de simbolismo que representa sua própria história possa ajudar a esclarecer.
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
Faça o que eu digo, mas…
Cristiano Zanin, seu advogado pessoal, foi nomeado por Lula 3 para a Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é casado e sócio da filha de seu compadre Roberto Teixeira. Curiosamente, Zanin votou no STF para que fosse mantida a condenação de homens que furtaram objetos como um macaco hidráulico, dois galões de combustível e uma garrafa contendo óleo diesel. Tudo avaliado em R$100,00.
Zanin foi o relator de um recurso apresentado pela DPU (Defensoria Pública da União) em favor dos acusados. Um deles foi condenado à pena de 10 meses e 20 dias, em regime aberto, substituída por duas penas restritivas de direitos. O outro recebeu a pena de 2 anos e 26 dias de reclusão, em regime semiaberto.
A Defensoria Pública pediu o reconhecimento do princípio de insignificância, já que os itens são de baixo valor e foram recuperados pela vítima após o furto. Também conhecido como princípio da bagatela, a insignificância é um entendimento jurídico cujo objetivo é não penalizar furtos de baixo valor ou famélico — quando alguém furta comida, medicamentos ou qualquer outro item que seja imprescindível para sua sobrevivência ou de outra pessoa. Diferentemente do roubo, não deve haver uso de ameaça, violência ou arma.
Zanin, no entanto, votou por manter a condenação, conforme determinação da 1ª Turma do STF, afirmando sem seu voto: “Tais condutas denotam total desprezo pelos órgãos de persecução penal, como se as suas condutas fossem criminalmente inalcançáveis”.
Lula e Janja na posse de Zanin no STF, ao lado da esposa filha do amigão Roberto Teixeira
Dois pesos, duas medidas?
Suprema Corte e Banco Central são órgãos de Estado. Seus membros só mudam, por enquanto, pelo prazo de validade: ministro do STF é aposentado compulsoriamente aos 75 anos enquanto o presidente e diretores do BC têm mandatos fixo de 4 anos, não coincidentes com o do Presidente da República, podendo ser reconduzidos uma vez.
Desconheço até agora qualquer manifestação do Poder Executivo, e do próprio Partido dos Trabalhadores, a respeito da decisão do STF que manteve a condenação dos envolvidos no furto cujo produto foi devidamente recuperado e os produtos furtados podem ser classificados como instrumentos de trabalho.
Fui alertado Lula poderia criar uma crise institucional caso criticasse o STF e o relator Zanin, com desdobramentos imprevisíveis. Por outro lado, o embate entre Lula e o presidente do BC já faria parte da campanha de 2026 e não teria nada a ver com economia. Curiosamente, não soube de qualquer comentário a respeito do seu desempenho na condução do BC assim como sobre a última votação unânime do COPOM dividido entre petistas e bolsonaristas.
Os discursos continuam tentando apagar o fogo com gasolina. O dólar deverá continuar subindo e descendo de acordo com o humor dos atores sob a direção do palanqueiro.
Qual Lula prevalecerá? O silente conveniente ou o bocudo surdo?
Façam suas apostas!