por Paulo Ernesto*
Raphael Rossi está com 86 anos muitíssimos bem vividos completados no último dia 26 de setembro. Mais de trinta familiares e amigos comemoraram com ele num encontro em seu sítio no Piracuama, aos pés da majestosa Mantiqueira. Com lágrimas nos olhos, ele afirma ser este dia uma data tríplice. É o dia do seu aniversário, do aniversário de sua querida e inesquecível esposa Iria Peloggia e também de seu casamento!
Raphael nasceu em 1930, no Bar Brasil em Jacareí. Isso mesmo, afirma que nasceu num Bar. Ô, delícia! Muito cedo trabalhou com seu pai na Empresa de ônibus Santa Isabel. Muito cedo também já estava em Taubaté e no final dos anos quarenta já tinha empreendido aqui uma bicicletaria, um bazar. Em seguida comprou um velho Austin-40 e foi vender balas da Embaré, além de frios, no Litoral e Sul de Minas. Incansável empreendedor juntou-se a Otto Schimdt e comprou a Livraria do Guga ali junto ao Cine Palas.
Contou-me também que observando o Ponto de Taxi do Catate, cujos carros eram de grande porte, resolveu montar um outro com carros pequenos e assim o fez, Ponto Caçula, em frente a ortodoxa Casa Nancy, no Largo do Teatro. Sua loja também se chamava Representações Caçula, um nome que sempre adorou e homenageava o menor dos guaranás, o Caçula. Ali representava também os produtos Ki-Amor, serpentinas e Confetes Rotativa, além do famosíssimo Lança-Perfume Rodouro, dos quais guarda valiosíssimos exemplares até hoje. Com a saída de Otto da sociedade, Raphael continuou e mudou-se, em 1958, para o endereço que virou uma das “marcas” e inesquecível referência em Taubaté, na Rua Carneiro de Sousa esquina com a Praça dom Epaminondas tendo como vizinho a Catedral em frente e a Sorveteria da Sé, dos também inesquecíveis Seu Zé e Dona Nair. Também era vizinho, na Carneiro de Sousa, da Leiteria Nevada e de outra Sorveteria, a Raphael.
Representações Caçula era lugar de encontro de todos que gostavam de uma boa música, de um bom papo e de boas histórias e causos. Imperdível. Nessa época casou-se com Iria Peloggia sua companheira por 57 longos e felizes anos. Desta união nasceram Rafael Junior e Rosana.
Em 1970, este incansável e irrequieto empreendedor juntou-se a outros quatro sócios e construíram o Pan Chopp Center, outro ícone de nossa cidade por onde passaram diversas gerações inebriadas com a festa que acontecia em suas dependências. Ir ao Pan Chopp, em frente ao TCC, era o programa da onda e lugar de encontro da jovem e da velha guarda.
Raphael Rossi tem muitas histórias para contar. Uma inteligência privilegiada e um humor mordaz fizeram muitas vezes surpresas infernais a seus amigos. Uma delas foi que ao viajar para negócios deixou a tarefa de abrir sua loja a uma funcionária que, pelas surpresas do acaso, não encontrou a chave e a loja permaneceu fechada. Sem opção, foi embora curtir a bem-vinda folga. O Seu Zé da Sorveteria não perdeu a oportunidade de aprontar com o Raphael e colou na porta uma faixa: “Fechado por Luto”. Foi um Deus nos acuda. “- O que aconteceu, morreu o Raphael?” , perguntavam todos os passantes. Ninguém tinha coragem de ligar para sua esposa Iria e a coisa tomou corpo. Consternamento geral na cidade. Coitado, tão moço, que pena! A coisa se espalhou e quando o ressuscitado Raphael retornou da viagem a São Paulo foi outro Deus nos acuda. Ficou “p” da vida. E veio o troco.
Alguns dias depois, num domingo de manhã, com a Praça Dom Epaminondas fervendo como era costume, famílias passeando, o povo indo e voltando do Mercadão, a garotada deixando o Mercurinho do Cine Palas. Eis que, repentinamente, dezenas de milhares de folhetos foram distribuídos para todos e, acreditem, até por um aviãozinho Teco-Teco. Foram mandados confeccionar por Raphael Rossi e anunciavam em letras garrafais: “HOJE, APÓS ÀS 10h, VALE UM SORVETE GRÁTIS NA SORVETERIA DA SÉ, SÓ HOJE!!!”. Imaginem a loucura! Foi necessária a intervenção policial para salvar a sorveteria. Márcio Prego, até hoje na Sorveteria Raphael na Praça Santa Teresinha, filho do seu Zé e da Dona Nair, me atestou a veracidade destes fatos.
Raphael trouxe muitos astros para abrilhantar a Representações Caçula, como Carlos Galhardo, Mazzaropi e Orlando Silva. Também grande incentivador de Renato Teixeira que frequentava sua loja. Muito amigo de José Venceslau (irmão do Paulo de Tarso Venceslau-Jornal Contato) formou com ele a efêmera dupla FUBÁ e lembra-se de umas cinco ou sei apresentações.
O tempo passou e por motivos vários Raphael se desfez do Pan Chopp Center e em 1978 vendeu a Representações Caçula para Roberto Graballo. Continuou apaixonado por boa música e tratou de abrir negócio similar em São José dos Campos, onde há 38 anos ele e seus filhos e nora administram suas lojas de instrumentos musicais e onde moram todos.
O acaso (será?) fez com que eu me encontrasse com ele num restaurante em Tremembé, tomando uma cerva com meu amigo o ex-prefeito José Antônio, filho do Barrinhos, outra figuraça de Taubaté, já falecido, e que foi muito amigo e compadre do Raphael Rossi. A partir desse encontro tenho tido a felicidade de conviver com ele e sua filha Rosana, nesses últimos meses e por vezes curtimos almoços e histórias.
Resolvi escrever algo sobre este inigualável homem. Um cara muito carinhoso e afetuoso que não perde o humor e a garra nunca. De bem com a vida. O humor demonstra muita inteligência. Presenteou-me com uma maravilhosa gravação radiofônica da cerimônia de inauguração do Pan Chopp Center, a qual divido com todos (clique AQUI). Um grande abraço meu amigo Raphael!
* Paulo Ernesto Marques Silva
Engenheiro Civil do Núcleo de Gestão Ambiental da SABESP