A fome de poder não tem limites para homens como Osmar Terra
O deputado Osmar Terra é um oportunista perigoso. Mensagem enviada na terça-feira a um filho do presidente Bolsonaro foi de uma irresponsabilidade absurda e criminosa. Claro que ele queria que o Zero Dois levasse ao presidente o áudio de sua mensagem depositada via WhatsApp. Óbvio que ele sabia que o seu conteúdo seria vazado. Nem isso o impediu de inventar descaradamente uma história que não se sustentaria nem um dia. Terra disse a Eduardo que o pico da epidemia de coronavírus já tinha passado e que devia ser comemorado. Citou São Paulo, justamente São Paulo, que no mesmo dia batia novo recorde de casos e de mortes pela Covid-19.
A fome de poder não tem limites para homens como Terra. Esse tipo de gente é capaz de qualquer coisa para obter uma fatia da torta, de preferência a maior fatia, ou para do bolo não ser afastado. Você deve ter ouvido o áudio ou lido sobre ele. Mas não custa repetir aqui as aspas que compõem a sua essência. O bolsonarista de oportunidade disse, entre outras mentiras, essa: “a epidemia não está caindo, está desabando”. E ainda lançou um desafio, não a Eduardo, de quem morre de medo, mas aos que o vazamento do áudio alcançaria: “Podem escrever isso e me cobrem”.
Terra ainda atacou a quarentena, o que é música de ninar aos ouvidos do presidente. Dizer que as pessoas podem sair às ruas num momento como este, que nada muda no comportamento do contágio, choca mesmo quando um ignorante defende a tese. Mas é inadmissível quando se ouve a besteira de um homem graduado em Medicina. É até mais grave do que um médico dizer que foi curado da Covid-19 pela cloroquina. Terra disse que “não há um doente a menos, uma morte a menos porque estão fazendo aquela quarentena radical”.
Não sei, mas talvez fosse o caso de denunciar o doutor Osmar Terra ao Conselho Federal de Medicina. Um homem como ele não deveria ser autorizado a exercer a Medicina. Se ele tivesse pacientes e estes seguissem o que disse na mensagem ao Zero Dois, estariam expostos e poderiam adoecer, ser internados em hospitais e UTIs e morrer. Por sorte, Terra é um ex-médico e não tem pacientes. Ele nunca exerceu de fato a Medicina no Brasil. Desde o início dos anos 80 faz política no setor da saúde. Começou como sindicalista e depois seguiu carreira de político profissional.
Osmar Terra não deveria importar, afinal, ele ainda não ocupa o cargo de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, que é oquem ais deseja. O problema é que ele se tornou um dos principais conselheiros de Jair Bolsonaro nessa crise sanitária. E é muito grave ver um presidente que sabe muito pouco sobre tudo aconselhado por um médico que sabe quase nada sobre Medicina. Mas Terra diz que sabe. Reafirma sempre que pode, que já combateu e venceu uma epidemia. O ex-doutor disse a Eduardo: “Enfrentei o H1N1, que para mim foi um vírus muito mais letal do que o coronavírus”.
Osmar Terra gravou mensagem para Carlos Zero Dois entregar ao pai presidente
Bobagem. Mesmo quem não sabe muito sobre medicina não deveria se arriscar com esta afirmativa. Ela contraria não apenas todo o mundo científico, mas ataca também os números, os dados oficiais, as estatísticas. Entre 2009 e 2010, em 16 meses, 2.160 pessoas morreram no Brasil com a H1N1. Mas, ainda em 2010, uma vacina derivada da influenza foi produzida e com ela se conteve a epidemia no Brasil e em todo o mundo. Não é o caso agora. Não há vacina nem remédio para a Covid-19. O que Terra parece ou finge ignorar.
São mais de dois milhões os infectados pelo coronavírus em todo o mundo. Esse número retrata apenas os que testaram positivo. Mais de 120 mil pessoas já morreram. Os dados mundiais mostram que sofrem mais os que tardaram a reagir, os que menosprezaram a letalidade do vírus, os negacionistas. Foi assim com Itália, Espanha e Estados Unidos. Pode ser assim com o Brasil se os brasileiros seguirem as orientações do deputado Osmar Terra. E esse é o seu crime. Muitos vão seguir a orientação do ex-médico porque ouviram sua mensagem no zap do Zero Dois. E essa turma não ouve mais ninguém.