O jogo do empurra-empurra quando o assunto é responsabilidade pública é a marca da administração municipal capitaneada por um historiador,
filho de outro historiador, que parecem ter se esquecido da História da terra de Lobato
Wanderlan Ramos de Carvalho Filho, gerente da área de Museus, Patrimônio e Arquivos Históricos da Prefeitura de Taubaté, em tese deveria ser o responsável pela situação em que se encontra a Villa Santo Aleixo, assim como os demais patrimônios de nossa histórica cidade.
A secretária de Turismo e Cultura, Martha Serra, a quem Wanderlan seria subordinado, diz que sequer dispõe da relação do patrimônio histórico, tombado ou não, da terra de Lobato.
Alexandre Magno, secretário de Serviços e Obras, afirma que não limpou o mato que toma conta da Villa Santo Aleixo porque não pode entrar com caminhão e máquinas. O próprio Wanderlan responde: “É só fazer capina manual.”
Enquanto isso, o prefeito Ortiz Júnior (PSDB) prefere o silêncio e ordena que sua assessoria de comunicação faça o mesmo.
Mesmo assim, CONTATO apurou que há cerca de 2/3 meses o prefeito procurou empresas para patrocinar a reforma/restauração da Villa. Três empresas mostraram interesse. Mas o prefeito queria a anuência do MP. A empresas, então, teriam impetrado ação junto ao Ministério Público para viabilizar o aporte de R$ 1,5 mi, como forma de compensação para receber dívida passada. Ninguém soube informar quais seriam as três empresas que fariam o aporte. Só o prefeito (que não atendeu nossa reportagem) e um funcionário do GEIN de nome Macedo poderiam fornecer uma informação pública.
Uma empresa de restauro em madeira de Paraty teria fornecido um orçamento, enquanto que o cálculo estrutural ficaria a cargo do engenheiro Antônio Carlos (AC). A secretaria de Planejamento seria responsável pela aprovação do projeto a partir de um levantamento feito pela arquiteta Lívia Vierno.
Há cerca de um mês, houve uma reunião sobre a Villa da qual teriam participado Wanderlan, Lilian Mansur, Martha Serra, Alexandre Simpson (secretário do Meio Ambiente), Débora Andrade Pereira (secretária de Planejamento), arquiteto Ernani e duas arquitetas da Formart
A Wanderlan competiria cuidar da execução da obra enquanto que Débora seria responsável pela sua aprovação junto ao Condephaat.
Enquanto o governo municipal patina, a Villa Santo Aleixo fenece.
Recordar é preciso
Não é por falta de aviso que o patrimônio histórico de Taubaté vem sendo sistematicamente vilipendiado. Mais grave ainda, vem sendo deteriorado sob olhar complacente das autoridades, principalmente as municipais. A Villa Santo Aleixo (mantendo a ortografia original) é uma das provas mais contundentes dessa triste realidade.
Por longos oito anos, as pessoas pensantes e que têm algum compromisso com a memória da terra de Lobato, debitavam esse prejuízo no prefeito. São públicos e notórios os limites culturais e intelectuais do então prefeito Roberto Peixoto. Uma figura boazinha, simpática, mas nada original, que afundou a administração municipal. Os 14 anos de Bernardo Ortiz, somados aos 8 anos de Salvador Khuriyeh e Antônio Mario, apesar das merecidas críticas a cada um deles, foram marcados por algum compromisso com a cidade.
Peixoto foi eleito com o apoio da família Ortiz e terminou aliado ao Partido dos Trabalhadores – PT, tendo como vice-prefeita a sindicalista Vera Saba. O ex-prefeito começa a receber as primeiras condenações. Os amigos e aliados sumiram. Comenta-se que não tem como pagar bons advogados. Peixoto dispensa maiores comentários.
O eleitor teria comprado gato por lebre?
A administração do tucano Ortiz Júnior começou em direção oposta a de Peixoto: acusado e acuado na Fundação para o Desenvolvimento da Educação então presidida por seu pai Bernardo. Acusado de se utilizar de meios nada republicanos para obter recursos para sua campanha eleitoral, os Ortiz, pai e filho, foram literalmente acuados politicamente. Não dispuseram de jogo de cintura para fugir dos golpes que repercutiam na Assembleia Legislativa, onde a bancada petista tem expressiva representação.
Mas, até então, trata-se de disputas políticas entre as duas agremiações que polarizam há bom tempo o cenário político nacional. Fazem parte da paisagem, como diriam os comentários aliados e adversários recorrentes nos bares e cafés no entorno da Praça Dom Epaminondas.
Apesar da permanente ameaça da Justiça que mantém o pescoço do prefeito sob a espada de Dâmocles, Ortiz Júnior teve um desempenho razoável à frente da Prefeitura. Porém, foi um desempenho aparentemente dirigido por quem está mais preocupado com seu currículo.
Exagero? Pode ser. Mas como se explica que o historiador tenha abandonado seu compromisso com a memória de Taubaté? Como explicar que o filho do autor de Velhos Troncos e São Francisco das Chagas de Taubaté, entre outras obras, tenha perdido o DNA que o ligava às raízes locais e regionais? Uma explicação pode ser a picada de um inseto muito conhecido no universo político, o pragmaticus operandi, cujo veneno elimina todos os sintomas e manifestações do eticus operandi.
Depois de concluir mais da metade de seu mandato, o prefeito dá as costas aos seus aliados e admiradores que acreditavam nos compromissos assumidos durante a campanha eleitoral de 2012.
Aos fatos
O Movimento Preserva Taubaté é formado por um grupo de abnegados e abnegadas taubateanos que coloca a defesa de memória da terra de Lobato como razão de suas vidas. Não é por acaso que a maior parte de suas reuniões ocorrem na Praça Santa Terezinha, na casa em que residiu até o final de sua vida a historiadora Maria Morgado, que teve uma de suas obras pirateadas pela administração do então prefeito Roberto Peixoto.
O pessoal do Preserva não dispõe de qualquer ajuda oficial, material ou política, além do esforço de cada um dos seus membros. A militância desinteressada dessas pessoas impediram, até o momento, que fosse destruída a memória das instalações onde outrora abrigaram os idosos de Taubaté que não tinham meios próprios para sobreviver. Infelizmente, o cheiro do dinheiro fez cambalear as frágeis resistências que ainda existiam na Sociedade São Vicente de Paula. Hoje, a única instituição que resiste é a Defensoria Pública.
Para não ir muito longe, hoje é visível o estado precário que se encontra a Villa Santa Aleixo, que outrora abrigou protagonistas republicanos como o Cardeal Arco Verde, entre outros.
O texto do Preserva Taubaté contém a educada ironia de quem ainda insiste em acreditar no atual prefeito. Confira:
A VILA SANTO ALEIXO ESTÁ CAINDO
Está prestes a vencer o prazo dado pela Justiça para que a Prefeitura de Taubaté devolva para a cidade o patrimônio arquitetônico Vila Santo Aleixo, todo restaurado e com um uso definido.
Porém, continua reinando a inércia nesta administração municipal, que parece não se ocupar de outra coisa que não seja tratar do processo de cassação do mandato do Sr. Prefeito.
É pavoroso ver a situação de total abandono em que se encontra a Vila. Forros e pisos destruídos, grades arrancadas, janelas quebradas, mato tomando conta de tudo.
Verba haveria, se vontade política existisse. Porém, o que fica cada dia mais claro para a população, é que a Prefeitura de Taubaté, por algum motivo, quer ver o nosso patrimônio no chão, tombado literalmente.
A atual Administração corre o risco de entrar para sua história da vida pública e se tornar inesquecível, por uma passagem tão vergonhosa e triste que seria o desabamento da Vila Santo Aleixo, ou, o que esta linda construção venha a sofrer.
Os Homens passam, os patrimônios arquitetônicos, porém, continuam para contar nossa história, quando são preservados.
MOVIMENTO PRESERVA TAUBATÉ