Por
Ana Marcondes
O
PINTOR WALDEMAR BELISÁRIO E MONTEIRO LOBATO
A
pesquisadora Ana Marcondes conta em primeira mão
como foi que Lobato estimulou a carreira desse pintor
e revela ainda o maquiavelismo de Oswald de Andrade diante
de sua amante Pagú e Belisário com quem
se casou
Meu
Pai. 1922. Óleo/juta. 75x55cm. Coleção
Edmundo Pelizzari (foto: Marcelo Vitorino) |
Como
parte das comemorações pelos 110 anos de
nascimento do pintor Waldemar Belisário Pellizzari,
tive o cuidado de escolher uma forma de homenageá-lo
ajustada ao seu perfil no campo das artes plásticas.
Foi por esse motivo que o contato com a cidade de Taubaté
revelou-se, entre os roteiros das demais cidades paulistas,
o mais importante. Isso não significa uma ligação
direta do artista com a cidade, mas sim com um de seus
mais nobres representantes, Monteiro Lobato.
Fortalecido com os comentários do crítico,
Belisário decidiu, segundo suas palavras “fazer
arte”. Isso aconteceu numa esquecida exposição
no Palácio das Indústrias em 1922, o mesmo
ano da famosa Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal
de São Paulo.
“Monteiro Lobato
nos visitou numa tarde e na frente de todo mundo me deixou
vexado porque ele disse: Olha Belisário, você
se destaca nesse ambiente com o retrato de seu pai e o
retrato de Tarsila e esses pescadores.
A força de Lobato
foi decisiva para o pintor estimulado pela crítica
e pela venda de seus quadros que, certamente, traduziam
a linguagem da iconografia nacional e popular em oposição
às tendências modernistas desse ano marcado
pelo Centenário da Independência.
A cidade paulista vivia suas contradições
entre os círculos modernistas e os círculos
acadêmicos e Waldemar Belisário era o ponto
tangente desses dois mundos intermediados por seus pais
que eram amigos, sendo ele próprio afilhado de
batismo, de Estanislau e Lídia do Amaral, pais
de Tarsila. Assim viveu o pintor até apaixonar-se
por Pagú e ser usado por Oswald de Andrade para
casar-se em 1929 com a adolescente grávida e dessa
forma desviar a atenção da esposa Tarsila.
Ao perceber a trama arquitetada, Belisário deixou
a mulher com o amante e pediu anulação do
casamento. Adensou-se a essa desilusão a perda
do Prêmio Viagem ao exterior ocasionado pela crise
econômica mundial.
Nada mais restava a Belisário a não ser
seguir o conselho do amigo Martins Fontes e mudar-se para
Ilhabela onde encontrou a paz e a serenidade necessárias.
Mergulhou nas profundezas da pintura para dela extrair
o sentido da vida e de sua existência já
prenunciado por Monteiro Lobato.