Por
Beti Cruz
betibia@ig.com.br
Conheci
de perto dois casarões na cidade: o da rua Visconde
do Rio Branco, que ainda existe e o da esquina da rua Pedro
Costa com a São José, já demolido.
Fizeram parte da minha vida e eu os freqüentei com
liberdade.
No primeiro deles vivia minha avó. Casa da avó
é sempre um lugar mágico e era mais ou menos
assim que eu o considerava.
O casarão me parecia imenso. Lá dentro, salas
e quartos assumiam proporções distorcidas
da realidade. Mas havia também lugares menores e
um tanto misteriosos. Uma e outra alcova, sempre na penumbra,
continham guardados inacessíveis aos meus olhares.
Passagens secretas entre cômodos atiçavam minha
imaginação...
Móveis antigos, cristaleiras e vasos de porcelana
sobre consoles espalhavam-se pela casa.
Vovó era m tanto severa, não me deixava mexer
em suas coisas. Mas vontade não faltava!
A sala de visitas era proibida para menores. Os netos só
podiam lá entrar acompanhados de adultos, para serem
apresentados a alguém ou para ouvir dona Eudóxia
tocar piano. E tínhamos que ficar bem comportados,
sentados em duras cadeiras de palhinha.
Eu adorava ouvi-la tocar a Polonaise Militar de Chopin!
Na rua, algumas pessoas também gostavam e ficavam
ali paradas, embevecidas.
No salão de jantar as crianças podiam usufruir
das atraentes cadeiras de balanço, empurrando uns
aos outros com bastante velocidade.
No terraço tínhamos mais liberdade. Cadeirinhas
baixas e mesinhas apropriadas à nossa idade ali estavam
para que pudéssemos desenhar e brincar à vontade.
De vez em quando vovó colocava na rádio-vitrola
discos que contavam histórias do Chapeuzinho Vermelho,
da Branca de Neve e da Formiguinha que prendeu o seu pezinho...
No quintal chupávamos jabuticabas, comíamos
carambolas e corríamos prestando atenção
para não estragar os canteiros de rosas, bocas-de-leão,
margaridas e branquinhas dos quais dona Eudóxia,
de tesoura em punho, cuidava com carinho.
Mesmo depois da morte de vovó e morando em São
Paulo, continuei freqüentando esta casa, pois tia Marina
ali permaneceu até meados da década de setenta.
Era lá que me hospedava em visitas à cidade.
Foi ali também que comemorei meu casamento religioso
junto a um pequeno grupo de familiares.
Fiquei contente quando a Prefeitura instalou neste casarão
o “Solar das Artes”. O local servia para abrigar
obras de artistas da região, exposições
de pintura, fotografias e realização de eventos
de cunho artístico. Um ponto de referência
na cidade.
Pena que posteriormente estas obras tenham sido deslocadas
e agora ele seja utilizado para outros fins.
Pena também que seu estado de conservação
não esteja lá dos melhores...
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