Por Paulo Pereira, médico

Dr. Paulo Pereira é um grande contador de causos. Hoje ele recupera a história de um velho comunista para mostrar que não dá mais saber o que é esquerda nesse País.

Chico Procópio era comunista. No Estado Novo estivera preso, junto com Graciliano Ramos, no Presídio da Rua Frei Caneca, no Rio.
A vida inteira dedicou-se ao Partido Comunista. Era de uma ideologia sem igual, envolvendo a família na sua luta, tanto que seus filhos receberam os nomes de seus ídolos, grandes figuras do Comunismo nacional e internacional: José (Stálin), Wladimir (Lenim), Luis Carlos (Prestes), Agildo (Agildo Barata), e assim por diante.
Naquele tempo, ser comunista era ser clandestino e visto com algo muito ruim, algo com ser adepto de Bin Laden hoje. O povo achava que comunista comia criancinhas. Mas, na verdade, era uma luta ideológica onde as pessoas procuravam de suas maneiras uma solução para os problemas do povo pobre, eternamente explorado em seus direitos. Essa motivação ideológica prosperava principalmente na juventude, sobretudo estudantil, que via necessidade de justiça social, de liberdade, de Democracia e de paz.
O ápice dessa luta ocorreu quando se deflagrou a Revolução Cubana e surgiu um ídolo mundial, Che Guevara.
Via-se nitidamente o que era esquerda e o que era direita. E como vivíamos numa Democracia, havia mais liberdade e o povo não sofria das perseguições que sofreram o Chico Procópio e seus companheiros em suas épocas. Todos os políticos que hoje comandam nosso País foram formados nessa época, com essas contradições e caminhos.
Muitos paradigmas ruíram com o término da guerra fria e a queda do Muro de Berlim. Capitalismo e Comunismo deixaram de ser palavras do dia-a-dia. Foram substituídas por Globalização. Ninguém mais vê o tom ideológico de antigamente nas lutas de hoje e ninguém mais entende se Saddan Hussein é de direita ou de esquerda. E o Bin Laden? E as lutas religiosas? Há um grupo mal informado que acha que tudo o que é contra o Bush é esquerda.
Fora Fidel Castro, quem mais é ídolo da esquerda?
O mesmo acontece em nossa política. Quem é de esquerda? O PT? E o PSTU? Quem é mais notável, Denise Frossard ou Eloísa Helena? Será que dá para administrar um país, hoje, com essas ideologias?
Para quem viveu a política estudantil, é hoje ridículo ver os posicionamentos dos estudantes. São todos desinformados. Se se fizer uma pesquisa se verá que ninguém hoje consegue analisar o que é esquerda e o que é direita.
O Chico Procópio passou a vida toda querendo ver liberdade e justiça social. Morreu ainda na Ditadura Militar. Quando o País comemorava as Diretas já ou, logo depois, as eleições livres, um filho seu procurou-me, todo fragilizado pela vida, lamentando que o pai não via aquela vitória.O filho era fragilizado porque o pai pensava mais na luta política do que no próprio filho. O ardor com que lutava era tão grande quanto a paixão pela família.
Chico Procópio e o Che Guevara foram grandes ídolos. Eles mostravam o que era esquerda e o que era direita.
Hoje não se sabe mais.




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