Por
Beti Cruz
betibia@ig.com.bt
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Este
veículo de comunicação demorou a chegar
em nossa casa. Meu pai era avesso a certas novidades. Ao
saber que acontecimentos importantes seriam transmitidos
(não ao vivo, ainda não era assim), tínhamos
que ir à casa de parentes ou amigos. Exemplo disso
foi quando o homem pisou na Lua. Naquela noite debandamos,
cada um juntando-se a um grupo. Tal façanha merecia
ser vista. As empregadas achavam que não podia ser
verdade. Velhinho entrevistsados diziam ser tudo armação.
E no campo, onde a televisão nem chegava, falava-se
de “coisa do diabo”.
Novelas mexicanas eram importadas. O “Direito de Nascer”
paralisava a cidade. Não se falava em outro assunto.
E nós, por fora, só nos inteirando de uma
ou outra cena vistas por acaso ao entrar e sair de residências
alheias. Confesso que isto me incomodava. Gostaria de ter
o aparelho disponível para acompanhar tudo: noticiários,
programas de auditório ou novelas.
Um dia, voltando de uma viagem, encontrei a novidade: uma
pequena televisão na sala. Não fiquei grudada
nela, como pensava antes. Percebi que os programas imaginados
interessantíssimos não o eram tanto assim.
Além do que minhas ocupações diárias
e o pouco tempo que passava em casa não me permitiam
distrair-me sem limites de horário.
Passei a ver uma coisa e outra esporadicamente. O que mais
me atraíu, entretanto, foram as novelas. Mas nem
a elas pude dedicar-me com afinco já que trabalhava
em algumas noites da semana e, nas outras, saía com
amigos para o cinema, teatro ou alguma reunião. Comecei
a ver as novelas salteadamente, sempre perguntando o que
tinha acontecido no capítulo anterior...
Na época do Bem-Amado, procurava não perder
tanto. Deliciava-me com o linguajar especialíssimo
de Odorico Paraguaçu, criação de Dias
Gomes. Gostava também das gaguejadas do secretário
Dirceu Borboleta e do terrível Zeca Diabo repetindo:
”Eu sou um home bão”. Divertia-me com
os defuntos que não apareciam para que o cemitério
fosse inaugurado.
Como a vida é mutante, aos poucos meus horários
foram se transformando e os hábitos mudando. A vinda
dos filhos obrigou-me a permanecer mais em casa. Com eles
bebês, nem pensar. As novelas coincidiam justamente
com momentos de papinhas e historinhas para ninar. Sobrava-me
a das dez, que naquela época ainda era exibida. Antes
do final já dormia profundamente no sofá.
Chegou enfim o dia em que podia escolher entre aquela das
seis, das sete ou das oito ou então assistir a todas
se assim o quisesse. Passei a ser uma noveleira de marca
maior. Para justificar-me perante amigos e colegas que achavam
esta distração alienante, dizia que aquela
era a hora do meu recreio. E era mesmo.
Depois as novelas também mudaram. Deixaram de ser
pura distração ao abordar temas polêmicos.
E eu mais velha, dominando melhor minhas horas de folga,
passei a assistir sistematicamente a trama “das oito”
que agora passa às nove.
Atualmente sigo “América”. Ela é
diferente das outras. Conhecendo o autor do livro cujo tema
serviu de inspiração à Glória
Perez, tenho o privilégio de receber informações
extra-oficiais sobre os bastidores, o que me diverte bastante.
Às vezes, fico sabendo o que vai acontecer ou aquilo
que pretendiam gravar e não deu certo. Aliás,
outro dia um dos personagens fez comentários sobre
o livro “Brasil Fora de Si”. Embora rápida,
a cena deixou nosso amigo José Carlos Sebe no ar.
Quer dizer, nas nuvens.
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