Espelhos (clique)


Por: José Carlos Sebe Bom Meihy

JC Sebe comenta livro testemunhal dedicado “a todas as gestantes que consideram a gravidez um assunto sério, seriíssimo... mas sem perder o humor”..

Foi assim: andava com saudade de alguns amigos e lutava comigo mesmo pela falta de tempo para as tais “coisas boas da vida”. Batia bastante em minha consciência perguntando-me por que me aposentei e ando mais ocupado do que nunca? Confesso que era um embate profundo, pois colocava em pauta razões éticas do tipo: qualidade das relações pessoais e humanas, respeito ao meu próprio passado, direito de satisfação pessoal.
Enfim, isto ocorria enquanto esperava meu computador abrir todos os programas até chegar à povoada caixa de mensagens. Para surpresa, entre tantas outras, havia uma enviada exatamente por um dos personagens do inventário saudoso. E dizia seu texto companheiro: “dia 3 minha mulher vai lançar o livro ‘Totalmente grávida’, se der apareça” e assinava, Mateus. Mateus é o [Matthew] Shirts que escreve no Estadão às segundas-feiras e dirige a Revista Geografia Nacional (recuso-me a citar o nome em inglês), meu querido ex-aluno, pessoa angular em minha vida, confidente de um passado que costurou momentos excelentes e outros difíceis [Shirts é norte-americano apaixonado pelo Brasil onde vive há quase 3 décadas].
Complicado que sou, outro problema se abria: quero ir, mas por causa dele ou dela? Vejam que este “teorema” me é complexo, pois escritor nunca gostei que as pessoas fossem aos lançamento de meus trabalhos por motivos outros que não eu ou o meu livro. Mesmo sem resolver o dilema, fiz um esforço enorme e fui. Mudei agenda, menti para desviar outros compromissos e me toquei do Rio para São Paulo.
Sabedor de que nestas situações deve-se chegar sempre um pouco atrasado, dei um tempo no elegante shopping center e fiz a entrada quando o público já era denso. Primeiro, fiquei de longe observando, depois, vendo alguns amigos caros aproximei sendo agraciado com coisas do tipo “nossa, como você engordou!”, “está mais careca”, “olha só esta barriga”... Mas como foi bom abraçar o Mateus! Ele foi mais do que simpático e, contornando outros convidados, ficou mais tempo comigo do que deveria. Trocamos as confidências cabíveis, falamos de amigos comuns, do passado e da implacável fatalidade do tempo sobre nossos destinos.
Mas fui para um lançamento (também). Conheci a simpática Luli e com o exemplar autografado saí para tomar um café. Devo dizer que estava muito emocionado. Fiquei de voltar logo, mas sentei-me e me perdi na leitura do livrinho de poucas e pequenas páginas. É lógico que me armei antes de começar: ih! deve ser destes escritos tolos, sem conteúdo. Nada! Foi a maior surpresa. O texto é um achado. As quase 100 páginas foram devoradas em menos de meia hora.
A lógica da proposta é exposta de maneira simples e direta logo de saída. Li novamente e comparei a alegria dos dizeres rápidos com a graça das gravuras, também feitas pela autora. Como texto testemunhal, a dedicatória não poderia ser mais explícita: “A todas as gestantes que consideram a gravidez um assunto sério, seriíssimo... mas sem perder o humor”. O mais longo texto tem vinte linhas e diz a que veio “todos os livros que encontrei só tratavam de dois aspectos da gravidez. Ou eram depoimentos que mais pareciam anúncio de margarina, com tudo muito lindo, tudo muito mágico, ou então eram conselhos médicos, ‘veja bem, estamos entrando na segunda metade da vigésima quinta semana, o bebê está precisando de potássio, alô, mamãe, que tal comer mais banana?” e daí por diante a narrativa decorre fluída, leve sem perder a profundidade. E mantém-se cheio de picardias.
Resisti voltar para uma despedida mais condizente com o prazer do encontro, mas detive-me, tudo tinha sido tão perfeito que resolvi sair do café e ir direto para a casa onde me hospedo. Não valeria a pena colocar mais nada naquele quadro entre nostálgico e bonito, confortante e emotivo. Valho-me desta crônica para uma explicação e um conselho. Explicação aos caros Mateus e Luli – pela saída louca – e para os leitores que saboreiem o “Totalmente grávida”, publicado pela Publifolha. Ah! Se mais alguma coisa cabe dizer é que busquem algum velho amigo. E o abrace por mim. Caso a visita seja para uma grávida – ou candidata a tal – leve este texto de presente.

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