Por Paulo de Tarso Venceslau

O livro da discórdia


CONTATO consultou estudiosos e especialistas na historiografia de Taubaté a respeito do livro “Taubaté: cidade educação, cultura e ciência” que faz parte da coleção ‘Conto, canto e encanto com a minha história...’, organizado pelo professor José Benedito Prado, diretor do DEC e editado e impresso pela editora Noovha América, recém-lançado pela Prefeitura Municipal. Sem exceção, todos os ouvidos preferiram manter-se no anonimato. Motivo: temem perder o direito de ter acesso ao Museu.



capa de CONTATO 144
Fato saudável:
Dez entre dez historiadores consultados por CONTATO, gostaram do trabalho organizado pelo professor José Benedito Prado, diretor do Departamento de Educação e Cultura. Além disso, o livro, apesar da capa de gosto duvidoso, possui um belo projeto gráfico, valorizado pela impressão colorida em papel couché. A linguagem agradável e a riqueza das ilustrações valorizam ainda mais o resultado. O livro possui uma correta organização com informações que sintetizam, com brilho, eventos históricos taubateanos. Poderia ser perfeito. Infelizmente, existem fatos, independentes da esfera legal, que o desabonam.

Fatos sombrios:

Benedito Prado tornou-se, do dia para a noite, um best seller incontestável, como bem lembrou o vereador Luizinho da Farmácia. Porém, a obra organizada pelo diretor do DEC contém um pecado original: foi todo estruturado em cima do livro “Núcleo Irradiador de Bandeirismo...”, de Maria Morgado.
O livro da “primeira-dama da historiografia de Taubaté”, expressão cunhada por Pedro Rubim, pesquisador e colaborador de CONTATO, até hoje é referência obrigatória para estudiosos e estudantes. O livro de Prado utiliza a mesma espinha dorsal da obra de Morgado para maquiar o quase plágio. Em um ambiente sério, no máximo, seria um trabalho de “atualização” de uma obra já existente.
Prado “produziu” o livro às pressas no museu histórico de Taubaté. Nos primeiros dias da gestão de Peixoto, chegou-se a ventilar a possível reedição do livro de Maria Morgado de Abreu, idéia misteriosamente abandonada. CONTATO apurou que o primeiro projeto apresentado pela editora Noovha América foi considerado um verdadeiro vexame. Professor Prado só teria entrado em campo para salvar um projeto já adquirido (ver compra de livros sem licitação).
Durante pelo menos cinco meses, conforme declarações da sócia proprietária da editora, o Museu Histórico de Taubaté foi mobilizado para realizar as pesquisas e a seleção de textos. Fontes que preferem ser preservadas relataram o enorme desconforto e frustração dos antigos funcionários da casa diante do projeto que seus novos chefes colocaram em seus colos.
“Só o apego aos cargos talvez explique a atitude de desonestidade intelectual praticado por Benedito Prado e a chefia do Museu Histórico de Taubaté. Eles sabiam mais que todos que a obra de Maria Morgado é primorosa, elaborada por uma historiadora com ‘H’ maiúsculo. Sabiam que o livro lançado em 1991 necessitava apenas de uma atualização. Prova disso é que chupinzaram quase que integralmente o livro. Sairia infinitamente mais barato. Citado na bibliografia do polêmico livro de Benedito Prado, resta saber qual é o destino de “Núcleo Irradiador de Bandeirismo...”. Ostracismo? Referência bibliográfica?”, declara uma renomada personalidade.
Neste ano, quase 4 milhões de reais foram investidos em promoções “culturais” para promover o nome do prefeito. Qual é o retorno de um campeonato de bandas para os artistas da terra? Quantos livros de autores taubateanos reconhecidos nacionalmente foram reeditados? A coleção Taubateanas continuará abandonada? Apoiar as novas gerações de artistas e escritores, hoje, seria inimaginável pelos inquilinos do Palácio do Bom Conselho.
Dez entre dez especialistas ouvidos por CONTATO temem pelo futuro da historiografia taubateana. Afinal, é pouco animador o balanço que registra, entre outras coisas, dezenas de títulos fora de catálogo assim com novos autores na fila de espera do mecenato oficial que só se dedica à promoção de nossas autoridades.


O livro...

Seria cômico, se não fosse trágica a malversação de recursos públicos, o fato relatado ao vivo pelo vereador Carlos Peixoto à TV que “diante da grita, nosso mais que honrado prefeito mandou recolher todos os exemplares do livro para aplicar uma tarja em sua foto”. A tarja preta simboliza, hoje, o luto de nossos intelectuais diante da violência perpetrada pelo Palácio Bom Conselho contra a cultura local.

Resumo da ópera

O livro organizado pelo professor Prado é apenas 1 milhão e meio de reais mais caro que o da professora Maria Morgado, cujo conteúdo ainda não foi superado, nem mesmo pela pirataria intelectual explícita.

 

 

 

| home |

© Jornal Contato 2005